Título: Petróleo vira foco de atenção do G-8
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2006, Economia & Negócios, p. B4

O aumento da tensão no Oriente Médio, provocado pela intensificação dos ataques de Israel à Palestina e pelo bombardeio ao Líbano, trouxe mais vigor ao encontro do G-8, que começa hoje em São Petersburgo. O anfitrião da reunião de cúpula e presidente da Rússia, Vladimir Putin, já havia priorizado a questão da segurança energética na agenda. Ontem, Putin engrossou a fileira dos chefes de Estado que condenaram a ação militar israelense e, assim como seus colegas George W. Bush, dos Estados Unidos, e Jacques Chirac, da França, demonstrou preocupação com a possível elevação dos preços internacionais do petróleo e os riscos ao abastecimento.

Convidado apenas para o segundo e o terceiro dia de reuniões do G-8 (formado por EUA, França, Alemanha, Itália, Reino Unido, Japão, Canadá e Rússia), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também vai se beneficiar dos efeitos da nova onda de violência no Oriente Médio ao expor suas propostas de transformar o etanol numa commodity e de incentivar o consumo de outros recursos renováveis, como o biodiesel e o H-Bio. Sua exposição deverá ocorrer na manhã de segunda-feira, e já conta com o apoio dos Estados Unidos e da França.

Lula trará também aos debates a necessidade de desbloquear neste mês a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), a partir de decisões políticas sobre tópicos aparentemente técnicos, como a redução de subsídios à produção agrícola e a abertura desse mercado. Durante o almoço oferecido por Putin aos líderes do G-8 e dos países convidados, o presidente Lula defenderá a conclusão de um acordo na Rodada Doha ainda neste ano.

O presidente estará em São Petersburgo ao lado de outros cinco chefes de Estado de economias em desenvolvimento: México, China, África do Sul, Índia e Congo. Com eles, terá um encontro prévio no fim da tarde de amanhã, para afinar as posições sobre a questão energética e Doha. Exceto o Congo, que representará a União Africana, os outros cinco países são do G-20, grupo de economias que insiste em resultados mais ambiciosos nos temas agrícolas da OMC.

O recado que Lula pretende trazer sobre o tema energético é claro: o investimento na elevação do consumo mundial de etanol e de outros combustíveis renováveis pode ser parte da solução para os atuais dilemas sobre o abastecimento e o custo do petróleo e do gás.

Trata-se de um dos itens da receita de Putin para lidar com a "crucial" questão dos riscos ao suprimento global de combustíveis. Os outros estão relacionados à maior interdependência entre países fornecedores e consumidores de petróleo e de gás, o respeito a acordos e contratos, a melhor regulação do setor nos países e a liberalização de preços e redução de subsídios. A Rússia tem 34% das reservas de gás do mundo e 13% da prospecção de petróleo. A companhia russa Gazprom investe US$ 5 bilhões em novos campos.

ARTIGO Em artigo publicado na quinta-feira pelo jornal americano The Wall Street Journal, o presidente Lula deixou claro que seu governo insistirá numa parceria com os Estados Unidos para promover o mercado mundial do etanol. Esse trabalho envolveria a transferência tecnológica e o incentivo à produção em outros países da América Latina e na África, bem como a transformação do produto numa commodity.