Título: Petróleo dispara com tensão no Oriente Médio e derruba mercados
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2006, Economia & Negócios, p. B1

O aumento da tensão no Oriente Médio, com os ataques de Israel ao Líbano, derrubou os mercados em todo o mundo. As bolsas caíram, o risco dos países emergentes subiu e o preço do petróleo bateu novo recorde, fechando em US$ 76,70 o barril. O movimento negativo também foi influenciado por ataques a um oleoduto na Nigéria, que deverá reduzir a produção de petróleo.

Em Wall Street, os investidores preferiram se refugiar em títulos do Tesouro americano. O preço dos treasuries de 10 anos, considerados os mais seguros do mercado, subiu 0,38% ontem, refletindo a procura maior pelos papéis. Resultado disso foi o recuo do mercado acionário. O índice Nasdaq caiu 1,73%; o Dow Jones, 1,52%; e o Standard & Poor's 500, 1,30%.

A Bolsa de São Paulo (Bovespa) acompanhou Nova York e fechou em baixa de 2,42%, em 35.354 pontos. O dólar também refletiu a tensão e terminou em alta de 0,91%, cotado em R$ 2,22. O risco país, que indica a confiança do investidor na capacidade de um país honrar seus compromissos, avançou 2,42%, para 254 pontos. Já o risco médio dos países emergentes subiu 3,32%, para 218 pontos. As bolsas européias e asiáticas também tiveram um dia conturbado e fecharam em terreno negativo (ver gráfico).

De acordo com especialistas, o temor dos investidores é que o conflito no Oriente Médio prejudique a oferta de petróleo no mundo, já que os países desenvolvidos dependem muito da produção dessas regiões para abastecer seus mercados. Um conflito mais intenso pode reduzir a oferta e, conseqüentemente, elevar os preços do petróleo para níveis ainda mais altos, afirma a economista da Tendências Consultoria Integrada, Alessandra Ribeiro.

"Com o preço do petróleo em alta, a inflação sobe e diminui a renda da população para o consumo de outros produtos. Isso afeta a atividade econômica", afirma ela, lembrando que a demanda pelo produto tem subido bastante nos últimos anos por causa do robusto crescimento mundial.

O economista da Gap Asset Management, Alexandre Maia, afirma que ainda é cedo para incorporar tais preocupações ao risco dos investidores, já que não se sabe se o conflito será duradouro. Mas ele alerta que, "se as questões geopolíticas continuarem tensas e pressionarem o preço do petróleo ainda mais, o mundo pode esperar novas altas dos juros dos Estados Unidos", hoje em 5,25% ao ano. Isso provocaria mais nervosismo no mercado financeiro.

Os analistas lembram também que o risco geopolítico não se limita aos eventos de ontem. A tensão em torno do programa nuclear iraniano e dos mísseis da Coréia do Norte e a crescente instabilidade política no Iraque têm o potencial de gerar inesperadamente fortes turbulências.

O analista Francesco Garzarelli, do Goldman Sachs, afirmou que a combinação nos últimos dias dos ataques terroristas em Mumbai, na Índia, e os eventos no Oriente Médio, fortaleceram as preocupações com riscos geopolíticos. Um levantamento feito pela instituição baseado nas reportagens das agências internacionais de notícias mostra que a freqüência das menções a temas geopolíticos tem crescido desde o segundo trimestre deste ano. A atenção dedicada ao tema está hoje tão elevada quanto a registrada em meados de 2004.

Além do Oriente, o mercado estará atento hoje aos índices das vendas no varejo nos EUA e também ao resultado do banco central japonês em relação aos juros.