Título: Alckmin quer reduzir carga tributária em 10 pontos
Autor: Jair Rattner
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/07/2006, Nacional, p. A5

Com o objetivo de discutir a política externa brasileira, tema que lhe causa preocupação, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, desembarcou ontem na Europa para uma visita de dois dias. No primeiro compromisso, em Lisboa, defendeu redução da carga fiscal brasileira. Para Alckmin, ela deve cair 10 pontos porcentuais em relação ao PIB. O ex-governador paulista sinalizou que a carga fiscal do Brasil tem de ser inferior a 30%.

"O Brasil está com uma carga tributária de 38,9% do PIB, quase 40%. Acredito que ela está no mínimo 10 pontos a mais do que deveria. Se você pegar os países emergentes, Argentina, Chile, Venezuela, México, todos têm menos de 30 pontos. Alguns têm 20% de carga tributária. E o pior é que ela está aumentando de ano a ano. No ano passado aumentou 1,5% do PIB", afirmou, na capital portuguesa. A redução da carga tributária, no entanto, destacou o candidato do PSDB, vai depender de um processo de reformas do Estado.

"O que eu coloquei é que a nossa carga tributária está acima do que deveria estar. Isso não se faz em 24 horas. Mas nós vamos fazer um trabalho de reestruturação administrativa, que é a questão central para poder ter uma carga fiscal menor e o Brasil crescer."

Na explicação, ele criticou a política econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição pelo PT e seu principal adversário na corrida ao Palácio do Planalto. "A fórmula do governo tem sido aumentar os gastos correntes, aumentar impostos e cortar investimentos. Nós vamos fazer o contrário: cortar gastos correntes, cortar impostos e aumentar o investimento. Esse parece ser o caminho para ter um crescimento mais forte."

Questionado se o fim da CPMF seria uma forma de reduzir a carga fiscal, o que daria condições para ampliar o investimento produtivo na economia, Alckmin afirmou: "A CPMF não é um imposto bom, porque é um imposto em cascata, não de valor agregado. É evidente que não se pode em 24 horas abrir mão de um tributo que arrecada R$ 30 bilhões. Mas o objetivo é ter um sistema tributário mais eficiente e ir desonerando as cadeias produtivas para o País crescer mais."

Em Lisboa, onde foi recebido pelo presidente Aníbal Cavaco Silva e pelo primeiro-ministro José Sócrates, Alckmin discutiu com os líderes portugueses questões comerciais, a importância de acordos para a liberalização do comércio e investimentos entre os países. Os dois líderes portugueses tiveram atitudes diferentes: enquanto Cavaco Silva, de centro-direita, aceitou que fossem feitas imagens, o socialista Sócrates não permitiu a entrada de fotógrafos nem foi com o candidato até a saída do gabinete, evitando que fossem fotografados juntos.

Alckmin fez um balanço negativo da política externa do governo Lula. "O governo do PT partidarizou a política externa. Como presidente, se Deus quiser, darei muito destaque à política externa sem partidarismo, colocando os interesses do País em primeiro lugar, para avançar ao máximo nos acordos comerciais, para vender mais, gerar mais empregos e ter um comércio exterior mais forte."

O ex-governador voltou, mais uma vez, a usar como exemplo da má atuação do governo a reação à nacionalização dos hidrocarbonetos por parte da Bolívia. "O governo brasileiro agiu muito mal porque, nesse caso, você teve expropriação dos ativos da Petrobrás, num ato de violência. Não se respeitou contrato, e a posição brasileira foi dúbia, submissa."

Hoje, o candidato tucano desembarca em Bruxelas, na Bélgica. À tarde, tem encontro com o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso. Alckmin foi para a Europa acompanhado do presidente do PPS, Roberto Freire (PE), e de um ajudante de ordens. Lá, se encontraria com o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). Os encontros do ex-governador no exterior estão sendo gravados e devem ser exibidos durante o horário eleitoral gratuito, que terá início no dia 15 de agosto.