Título: 'Lula não quer perder votos'
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/07/2006, Economia & Negócios, p. B1

O Brasil endurece as negociações e recusa-se a elevar o preço do gás que importa da Bolívia porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai enfrentar a reeleição e "não quer perder votos". Essa é a opinião do ministro boliviano dos Hidrocarbonetos, Andrés Soliz Rada.

Em entrevista coletiva, Soliz afirmou ontem que nas eleições de outubro "o candidato Lula não quer perder votos por causa desta negociação e que a direita o acuse de ter atuado de forma branda", como no caso da nacionalização dos hidrocarbonetos ditada na Bolívia.

Bolívia e Brasil começaram a negociar o novo preço do gás boliviano no último dia 29. Desde então, as duas partes têm 45 dias para chegar a um acordo que evite o envio do caso ao julgamento de uma corte internacional, como estabelecido no contrato.

No entanto, o ministro disse ontem que esse prazo pode ser ampliado. As conversas, que estão sendo realizadas pelas estatais Petrobrás e Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), continuarão na próxima quarta-feira em Santa Cruz de La Sierra.

Soliz acredita que as negociações com o Brasil serão estendidas até o término das eleições presidenciais de outubro, para quando é aguardada uma maior "compreensão" dos brasileiros envolvidos nas negociações para que aceitem o preço boliviano.

EM CAMPANHA O Brasil paga atualmente US$ 4 por milhão de BTU (Unidade Térmica Britânica, usada como medida para o combustível), considerado pouco pela Bolívia ante os US$ 7,5 que seriam gastos no Estado de São Paulo, caso a região não pudesse contar mais com o gás boliviano para sua indústria.

Segundo o ministro boliviano, o Brasil deve aceitar um aumento do preço porque utiliza esse carburante com fins industriais, ao contrário da Argentina, que o destina para o consumo doméstico e já aceitou gastar US$ 5 por milhão de BTU.

Soliz também assegurou que o governo brasileiro está em campanha quando fala de possíveis compras de gás venezuelano mais barato, que o País pode ser auto-suficiente em hidrocarbonetos em 2008 e será "a maior potência energética do mundo em 2030".

Essas "são as cartas utilizadas pelos negociadores, um pouco para desmoralizar o adversário", apontou Soliz, que depois assegurou que o governo boliviano terá a seu lado a importância de propor uma nova fórmula de cálculo dos preços, com duração até 2019.

Fontes da Chancelaria descartaram que esta semana o presidente Lula visite seu colega Evo Morales para falar sobre o tema do gás, como veiculado por fontes diplomáticas brasileiras. Por outro lado, o presidente brasileiro aceitou o convite de Evo Morales para assistir à inauguração da Assembléia Constituinte na Bolívia, no próximo dia 6.