Título: Dilma acha 'baixo nível' falar de patrimônio de Lula
Autor: Thiago Velloso e Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2006, Nacional, p. A4

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse ontem que seria atitude de "baixo nível" explorar na campanha eleitoral o fato de o patrimônio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter dobrado entre 2002 e 2006. "Acho que essa é uma forma de baixo nível de conduzir a campanha eleitoral. Não acredito que ninguém fará uma coisa dessas", afirmou Dilma, em visita à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Em 2002, o então candidato do PT a presidente entregou à Justiça Eleitoral uma declaração de bens de R$ 422.949,32. Anteontem, Lula informou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que seu patrimônio é de R$ 839.033,52. O aumento pode ser explicado, em grande parte, pelas mordomias do cargo.

O presidente, que recebe salário de R$ 8.885,48, além de aposentadoria como anistiado, não precisa pagar despesas com alimentação, saúde, transporte, segurança, moradia, vestuário, lazer e até cabeleireiro e tratamentos de beleza. Sempre há cortesias ou quem se responsabilize pelos custos. Em Brasília ou nas viagens, gastos pessoais são pagos por "ecônomos", funcionários que andam com cartões sem limites de crédito.

Em 2003, o gasto com cartões corporativos da Presidência totalizou R$ 3,8 milhões. No ano seguinte, R$ 6,4 milhões. Não se sabe, porém, qual parcela desse montante é usado em despesas pessoais do presidente e da primeira-dama Marisa Letícia, pois até os agentes do serviço de inteligência recorrem aos cartões. O Planalto não informa em quais situações os cartões são utilizados, sob argumento de que se trata de questão de segurança nacional.

Técnicos de partidos oposicionistas, como o PFL, que monitora os gastos do governo, levantaram o nome de 52 ecônomos no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi). Anderson Aguiar, um deles, gastou em uma só compra R$ 54 mil.

No início de 2005, foi levantada a suspeita de que ecônomos bancavam, com os cartões corporativos, cortes de cabelo da primeira-dama no Studio W, em São Paulo, do cabeleireiro Wanderley Nunes, e vestidos, tailleurs e terninhos do estilista Ivan Aguilar. Procurados, Nunes e Aguilar disseram que nada cobraram.

Cerca de 75 funcionários estão à disposição do casal presidencial no Palácio da Alvorada, a residência oficial. São garçons, médicos e seguranças, entre outros.

Todas as roupas de banho e de cama que entram na suíte de 120 metros quadrados são comprados por licitação.Só na reabertura do palácio, em março, a Presidência gastou R$ 112 mil em colchas, toalhas, lençóis e fronhas. É assim também com o combustível que abastece os carros oficiais e a lancha usada em passeios no Lago Paranoá.

Outra incógnita é o montante de recursos gastos em propriedades privadas dos presidentes. Quando Fernando Collor (1990-1992) deixou o poder, um caminhão da Presidência estacionou na frente da Casa da Dinda, residência particular dele em Brasília, para levar ventiladores, mesas e cadeiras retirados do Alvorada e do Planalto.

Quando Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) estava à frente do País, carros da administração federal eram vistos na fazenda em que o então presidente descansava em Minas.