Título: 'Lula é muito riquinho para ser o candidato dos pobres', diz Alckmin
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2006, Nacional, p. A6

No primeiro dia oficial de campanha, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, ironizou ontem seu principal adversário, o presidente e candidato à reeleição pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva. O motivo foi a declaração de bens apresentada à Justiça Eleitoral na véspera por todos os postulantes ao Planalto. Com base na informação fornecida pelo próprio PT de que o patrimônio de Lula dobrou desde a posse, Alckmin afirmou que para quem se coloca como representante dos pobres, Lula está bem financeiramente. "A única coisa que chama a atenção é que para o candidato dos pobres, ele é bem riquinho", disse o tucano ao desembarcar em Florianópolis (SC) para o primeiro ato oficial da corrida eleitoral.

Apesar do comentário, Alckmin disse que "não fez conta nenhuma" para saber se o argumento do PT sobre o crescimento do patrimônio de Lula tem sentido. Segundo o partido, o crescimento de R$ 422,9 mil para R$ 839 mil dos bens pessoais é fruto de "poupança de parte do salário como presidente", bem como aposentadoria e rendimentos em aplicações anteriores a 2002. Para o tucano, a evolução patrimonial de Lula também não deve ser investigada. "Não há razão para pedir investigação", minimizou depois, em entrevista.

Ainda na conversa com os jornalistas, antes de abrir oficialmente sua campanha, o ex-governador paulista demonstrou preocupação com a notícia de que o ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu (PT-SP) manteve encontros na Bolívia, em abril, onde teria agido na condição de emissário do Palácio do Planalto e tratado do tema da nacionalização do gás e petróleo bolivianos. "É muito grave, muito estranho porque foi um ato de violência, de força cometido em relação à Petrobrás e tudo indica que o governo brasileiro não foi pego de surpresa. Foi lamentável rasgar contrato, expropriar títulos de uma estatal brasileira. Cria uma enorme insegurança jurídica."

Em seguida, no ato de abertura de sua campanha, que reuniu cerca de 600 pessoas em um hotel na região central de Florianópolis, Alckmin fez um duro discurso contra o governo Lula. Ao longo de 17 minutos, disse que a administração do petista é baseada em "propaganda enganosa e vai no sentido contrário do que o País precisa, que é se desenvolver e gerar emprego".

Ainda no discurso, feito após o do candidato ao governo de Santa Catarina, o ex-governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) - que renunciou ao cargo ontem para disputar um novo mandato -, Alckmin se comprometeu a reduzir a carga tributária para atrair investimentos e alavancar a oferta de empregos. Segundo ele, o Brasil precisa de 1,6 milhão de novos empregos por dia para comportar os jovens que ingressam no mercado de trabalho. "O governo só gera emprego de forma complementar. Quem gera é a agricultura, o turismo, a indústria. O governo tem de ter atitude para incentivar investimentos. E hoje o Brasil está no sentido contrário porque o governo Lula só aumenta imposto e corta investimentos", criticou.

Ao lado do candidato a vice, o senador José Jorge (PFL), e do candidato tucano a vice de Luiz Henrique, o senador Leonel Pavan, Alckmin falou ainda em "varrer a corrupção" que atingiu o governo do PT, "acabar com o desperdício e respeitar o dinheiro do povo, que se sacrifica para pagar impostos". O ex-governador paulista também frisou que é preciso "assumir responsabilidades" e citou várias vezes seu padrinho político, o falecido governador paulista Mário Covas (PSDB).