Título: É improvável que tribunal ordene uma recontagem
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2006, Internacional, p. A12

Os sete juízes que compõem o Tribunal Eleitoral do Poder Judiciário da Federação (Trife) podem, em tese, ordenar que algumas urnas sejam reabertas e haja uma recontagem. Mas é improvável que o façam, a julgar pela explicação que o presidente da entidade, o juiz Leonel Castillo, deu esta semana a observadores internacionais.

De acordo com o juiz, legalmente as atas, que foram usadas na contagem oficial dos votos que deu a vitória ontem ao conservador Felipe Calderón, têm mais valor que os sufrágios, porque refletem melhor a realidade do que efetivamente aconteceu na votação.

A razão é que as atas contêm os números apurados na contagem dos votos que foi feita na noite de domingo por mais de 900 mil mesários nas seções eleitorais, na presença de mais de 1 milhão de fiscais de todos os partidos. Uma nova contagem seria menos segura, pois existe o risco de que urnas possam ser contaminadas antes dessa nova contagem - exigida pelo líder esquerdista Andrés Manuel López Obrador como condição para aceitar sua derrota.

Mais importante, contudo, é o fato de que a lei mexicana não preveja a recontagem a não ser na apuração oficial já concluída, ou por apenas três motivos: inconsistências entre as atas em poder do IFE e as cópias dadas aos representantes dos partidos na noite de domingo; sinais de tentativa de adulteração das atas; ou o sumiço delas, guardadas lacradas dentro de cada urna, após a apuração. Criado em 1986, o Trife é constituído por juízes nomeados pelo presidente e aprovados pelo Congresso. Eles cumprem mandatos de dez anos.