Título: Calderón vence e López Obrador resiste
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2006, Internacional, p. A12

O Instituto Federal Eleitoral (IFE) anunciou ontem que Felipe Calderón, do conservador Partido de Ação Nacional (PAN), foi "o candidato mais votado" na eleição presidencial do último domingo no México. Calderón, de 43 anos, bateu o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD), de 52 anos, pela microscópica margem de 0,58 ponto porcentual. A diferença é de 243.934 votos, de um total de 41,1 milhões. Após o anúncio, Calderón discursou pedindo união e reconciliação. "Chegou a hora dos acordos", afirmou, propondo um governo de coalizão.

Segundo o resultado oficial, apuradas 100% das mais de 130 mil urnas, Calderón obteve 35,89% e López Obrador, 35,31%. Mas levará dias, ou até semanas, até que Calderón seja oficialmente declarado presidente eleito.

Às 8h30 de ontem, quando a vantagem de Calderón era de 0,3 ponto, López Obrador anunciou em entrevista coletiva que impugnará a eleição perante o Tribunal Eleitoral do Poder Judiciário da Federação (Trife) e exigirá nova apuração, "voto por voto". Segundo ele, "houve muitas irregularidades". Citou como exemplo o fato "pouco usual" de a contagem oficial, iniciada na manhã da quarta-feira, como manda a lei, ter terminado em pouco mais de 24 horas, quando o prazo era até o domingo. Foram compilados os números das atas eleitorais produzidas com base na contagem feita na noite de domingo pelos mesários das seções de votação, na presença de fiscais dos partidos. "Não podemos aceitar ou reconhecer esses resultados", disse López Obrador. Significativamente, contudo, ele não usou a palavra "fraude".

O líder esquerdista convocou seus simpatizantes a irem ao Zócalo, histórica praça central da Cidade do México, na noite de sábado. Disse que apresentará ali as "provas" das irregularidades que justificam o pedido de impugnação das eleições. López Obrador, porém, pediu aos militantes de seu partido que se manifestem "de forma pacífica" e disse que agirá "dentro da institucionalidade". É altamente improvável que o esquerdista seja atendido (ler ao lado).

Calderón já havia feito um chamado à conciliação pouco depois das 4 horas da manhã de ontem, quando, com 97% das urnas apuradas, o resultado da contagem oficial, até então favorável a López Obrador, reverteu-se. Isso ocorreu graças à chegada ao IFE de resultados dos Estados panistas do norte, que iniciaram contagem mais tarde pois estão em fusos horários diferentes da capital e do sul - redutos do PRD.

A maioria dos analistas acredita que o Trife levará um par de semanas para responder à ação de impugnação, a partir do momento em que for oficialmente entregue, possivelmente domingo ou segunda. Alguns temem o pior. O historiador Enrique Krauze, crítico de López Obrador, afirmou que o país necessitará da solidariedade do mundo democrático se o esquerdista não aceitar a decisão do Trife, que é inapelável. "López Obrador poderá, reclamando de uma fraude impossível de comprovar, instrumentalizar um movimento de resistência civil, que será uma dura prova para as instituições políticas."