Título: Grandes exportadores já mostram perda de fôlego
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2006, Economia & Negócios, p. B1

A perda de força das exportações já afeta a produção industrial, ao contrário dos últimos anos, quando as vendas externas puxaram o crescimento do setor. É o que mostra um cruzamento de dados feito, pela primeira vez, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto a produção de um grupo de setores, relativamente mais exportadores, cresceu 2,9% este ano até maio, a indústria geral avançou 3,3%.

Entre os 26 segmentos industriais que têm crescido abaixo da média estão celulose, couro, fumo, madeira e abate e preparação de animais. Para especialistas em comércio exterior, o câmbio valorizado é o principal motivo da perda de dinamismo.

"Os produtos manufaturados sofrem influência direta da taxa de câmbio. Por isso, são os mais afetados na rentabilidade e competitividade", diz o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Quando perdem competitividade, as indústrias reduzem a produção e tentam manter presença no exterior ou, no caso de empresas pequenas e médias, deixam de exportar.

Outro cálculo, feito pela Rosemberg & Associados, indica que as exportações influíram negativamente na produção. As estimativas são de que a demanda interna foi responsável pelo aumento de 3,06% na atividade industrial, enquanto o setor externo contribuiu com -0,09%. Até maio, a indústria da transformação cresceu 2,97%.

O levantamento tenta isolar as exportações industriais da produção local. "Esse resultado corrobora a idéia de que o mercado doméstico está sendo o carro-chefe do crescimento da indústria de transformação", diz boletim da consultoria.

Desde 2002, com a desvalorização cambial provocada pela incerteza eleitoral, a demanda externa vinha sendo responsável pela alta da produção. O mesmo efeito se refletia no Produto Interno Bruto (PIB). "Agora, com a valorização cambial, a gente está vendo o contrário", diz a economista da Rosemberg Lygia de Salles Freire César.