Título: Produção industrial surpreende e tem o maior crescimento do ano
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2006, Economia & Negócios, p. B1

Embalada pelo aquecimento da demanda interna, a indústria teve em maio o melhor desempenho do ano, com aumento de 1,6% na produção ante abril. A expansão do crédito e da renda dos trabalhadores, além da queda da inflação e dos juros, foram os motivos apontados pelo chefe da coordenação de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales, para o que considera "um grande impulso" do setor.

O desempenho foi puxado especialmente pela produção de bens intermediários, uma ampla cadeia de setores que inclui matérias-primas e componentes industriais e responde por 60% da pesquisa mensal do IBGE. Na comparação com maio do ano passado, a produção industrial cresceu 4,8% e acumula no ano um aumento de 3,3%.

Para Sales, os bons resultados da indústria em maio refletem a normalização dos estoques, que levou a categoria de bens intermediários a responder imediatamente, com o aumento da produção, às encomendas de bens finais de consumo. Esse segmento, que vinha tendo fraco desempenho na pesquisa, reagiu com força em maio e elevou a produção (1,9%) acima da média da indústria na comparação com abril.

Sales disse que o aumento da demanda interna foi o fator que mais contribuiu para o aquecimento da indústria. As exportações continuam perdendo força, ainda que permaneça a sua influência positiva no setor.

Ele salientou que o índice de difusão do IBGE mostra "um espalhamento dos resultados positivos" em maio. Segundo o índice, 58% dos segmentos pesquisados mostraram crescimento na produção em maio ante maio de 2005. Em abril último, esse porcentual havia sido de 38%.

Paulo Levy, diretor de assuntos macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirmou que os dados do IBGE são "consistentes com o quadro macroeconômico de política fiscal e monetária", favoráveis à expansão da demanda interna.

Do lado fiscal, Levy destaca o aumento dos gastos públicos, com mais investimentos do governo, além do reajuste do salário mínimo e da mobilização eleitoral. No caso dos juros, ele acredita que a trajetória de queda da taxa básica (Selic), iniciada em setembro de 2005, começou a repercutir na atividade econômica no segundo trimestre do ano.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) divulgou relatório sobre a pesquisa no qual avalia que, "pela primeira vez no corrente ano, há um indício significativo de aceleração da produção industrial" e é significativo que o crescimento esteja ancorado "na dobradinha bens de capital-bens intermediários, sendo este último o segmento de maior peso na estrutura industrial brasileira, que praticamente não vinha crescendo nos últimos meses". O atual secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Júlio Sérgio Gomes de Almeida, era diretor-executivo do Iedi.

DESTAQUES A pesquisa do IBGE mostra que os segmentos de veículos automotores (6,2%), alimentos (2,5%) e máquinas e equipamentos (3,1%) puxaram o crescimento da produção em maio ante abril. O destaque negativo nessa base de comparação foi o de material eletrônico e equipamentos de comunicações, cuja produção diminuiu 7,9%.

Segundo Sales, esse setor sofreu impactos negativos da greve na Receita Federal, que teve início no dia 2 de maio, prosseguiu por todo o mês e criou dificuldades para a importação de matérias-primas e componentes.