Título: Recado de Lula aos bancos oficiais: aumentem crédito e reduzam juros
Autor: Fabio Graner e Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2006, Economia & Negócios, p. B4

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, atacou ontem, mais uma vez, de garoto-propaganda das realizações econômicas e anunciou que no governo Lula o volume de crédito até o fim do ano deve estar em 36% do Produto Interno Bruto (PIB), um salto em comparação à marca de 23,9% do PIB do início do governo. Mantega levou os presidentes dos bancos oficiais a um encontro com Lula e, depois, revelou que o presidente orientou Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal (CEF), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), Banco da Amazônia (Basa) e Banco do Nordeste (BNB) a aumentarem os empréstimos a pessoas físicas e jurídicas e reduzirem os custos dos financiamentos, considerados elevados.

"Tem de haver um esforço das instituições financeiras públicas para redução dos spreads. Devemos reduzir mais os spreads de modo a oferecer crédito mais barato para o setor privado, para o consumidor e para o investidor", disse o ministro, que fez a ressalva de que isso deve ser feito sem comprometer a saúde financeira dos bancos oficiais. O spread é a parcela embutida nos custos dos empréstimos que considera a possibilidade de risco de inadimplência e o lucro da entidade com a operação.

Os dados sobre o comportamento do crédito no atual governo foram apresentados a Lula na reunião com dirigentes dos bancos, da qual também participaram o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e os ministros do Planejamento, Paulo Bernardo, e do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Cada dirigente de banco fez uma exposição sobre a evolução do crédito nas instituições. Meirelles traçou um quadro geral da economia brasileira e os ganhos com a queda da inflação e a estabilidade do País para enfrentar crises externas.

Embora tenha justificado a entrevista para explicar a sistematização de dados das instituições financeiras, Mantega deu um destaque muito maior ao fato de o crédito ter crescido nos últimos quatro anos e atingido em 2006 a marca de 32,6% do PIB. Ele também chamou a atenção para o ritmo de crescimento do volume total de financiamentos, de 0,5% ao mês, que, se mantido, vai permitir que até o fim do ano o crédito alcance a marca de 36%. "Não posso jurar de pé junto que isso vá acontecer, mas há espaço para o crescimento do crédito."

Embora tenha comemorado a expansão do crédito, o ministro reconheceu que o nível atual ainda é insuficiente. Segundo ele, para que os financiamentos sejam um combustível para o desenvolvimento, o volume de crédito tem de alcançar, pelo menos, a casa de 40% do PIB. "Acredito que isso vá acontecer num prazo rápido."

Mantega enfatizou a necessidade de o sistema financeiro ter juros menores e falou da necessidade de se conversar com o setor privado para que sejam praticadas taxas mais "civilizadas". O ministro lembrou que os spreads bancários não têm acompanhado o ritmo de queda na taxa Selic, mas se recusou a discutir se o BC teria ou não "errado a mão" ao adotar cautela na redução dos juros mesmo com a inflação abaixo do centro da meta oficial.

Questionado, respondeu com outra pergunta: "Qual é a utilidade dessa conclusão? O que interessa é que, hoje, o BC está reduzindo a taxa (de juros), mantendo a inflação sob controle. Os resultados são muito positivos, porque a economia está crescendo, e nós vemos hoje um crescimento sustentado".