Título: Amorim ainda vê saída para a Rodada Doha
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2006, Economia & Negócios, p. B5

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, recuperou a confiança na conclusão da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), depois do fracasso das negociações dos pré-acordos agrícola e industrial, no fim de semana, em Genebra. Menos cético, o chanceler afirmou ontem que os movimentos da União Européia e dos países em desenvolvimento permitem vislumbrar o acordo final. Mas reforçou que ainda falta uma resposta efetiva dos Estados Unidos sobre a redução dos subsídios domésticos a seus agricultores.

"Vivemos uma situação paradoxal. O acordo é visível, apesar das dificuldades. Uma zona de acordo possível, com concessões de parte a parte, é vislumbrada hoje em dia", declarou Amorim na abertura da primeira reunião plenária do Grupo Piloto sobre Mecanismos Inovadores de Financiamento do Desenvolvimento, no Itamaraty. Para ele, "congelar" a rodada para esperar um ambiente mais favorável não traria nenhum benefício.

O otimismo de Amorim está assentado em duas iniciativas. A primeira é a possibilidade de se tocar nos entraves para a conclusão da Rodada Doha durante a reunião de cúpula do G-8 (as economias mais ricas somadas à Rússia), em São Petersburgo, entre os dias 15 e 17, para a qual Brasil, Índia, México, África do Sul e China foram convidados. O Itamaraty acredita que desse encontro podem sair compromissos relevantes para conclusão dos pré-acordos nas áreas agrícola, industrial e de serviços. "Precisamos da intervenção dos líderes mundiais."

A segunda iniciativa diz respeito à atuação direta do diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, que teve seu mandato fortalecido pelos seis principais atores da organização - União Européia, Estados Unidos, Japão, Brasil, Índia e Austrália, conhecido como G-6 - na reunião do fim de semana. Lamy deve atuar neste mês como mediador entre as propostas e as exigências das principais agrupações e países da organização, para facilitar os acertos. Se conseguir, haverá tempo para o acordo final ser arrematado até o fim do ano.

Amorim aposta nos sinais emitidos pelos três principais lados em confronto. Dos Estados Unidos, espera-se um corte maior que 60% nos subsídios mais distorsivos concedidos a agricultores, além da adoção de regras sobre as subvenções. Essa oferta foi considerada insuficiente porque não reduziria o montante de subsídio concedido efetivamente em 2005.

A União Européia aproximou sua proposta de abertura de mercado agrícola à sugestão do G-20, o grupo de economias em desenvolvimento liderado por Brasil e Índia. Bruxelas sinalizou com uma redução de tarifas para o setor de 51% - em vez dos 39% oferecidos em outubro passado. Entretanto, ainda falta detalhar como seria o tratamento para produtos especiais e as salvaguardas.

Os países em desenvolvimento continuam dispostos a liberalizar seus setores industrial e de serviços - em um sacrifício que será menor que o das economias ricas no agrícola, como enfatizou Amorim. Na manga, negociadores brasileiros guardam a carta de uma redução mais acentuada na tarifa de importação para bens industriais, que poderia derrubar o porcentual mais alto hoje aplicado de 35% para 12,73%.