Título: 'Tem a cara da América do Sul'
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2006, Economia & Negócios, p. 1

Imune às advertências do setor industrial brasileiro, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, declarou que a entrada da Venezuela ao Mercosul tornará o bloco, finalmente, "a cara da América do Sul". O chanceler assinalou que a adesão de mais uma economia - a que mais apresenta liquidez na região, por causa dos elevados preços de petróleo - não deverá afugentar os sócios menores, que redobraram suas ameaças de retirada do bloco neste semestre. A Confederação Nacional da Indústria (CNI), entretanto, alertou ontem para impactos das posições de Caracas e nas negociações comerciais do Mercosul com a União Européia e os Estados Unidos.

"É evidente que, agora, o Mercosul tem a cara da América do Sul", afirmou Amorim, depois de abrir a reunião plenária do Grupo Piloto sobre Mecanismos Inovadores de Financiamento do Desenvolvimento, no Itamaraty.

Conduzido a toque de caixa nos últimos seis meses, o processo de adesão plena da Venezuela foi formalizado no dia 4, em Caracas. O livre ingresso de produtos venezuelanos no mercado brasileiro deverá se dar a partir de 2010. Os bens brasileiros vendidos à Venezuela somente terão tarifa zero a partir de 2012. As listas de produtos sensíveis de ambos deverá vigorar até janeiro de 2014. A Venezuela também terá quatro anos para convergir suas alíquotas de importação à Tarifa Externa Comum (TEC). Mesmo assim, a CNI avalia que essa convergência de médio prazo trará oportunidades de negócios ao Brasil.

O principal dilema para o setor industrial está no fato de o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, passar a ter voz ativa a partir da próxima reunião de cúpula do Mercosul, marcada para os dias 20 e 21 em Córdoba, Argentina. Poderá votar ou vetar as decisões.

Amorim, entretanto, evitou qualquer menção sobre a capacidade do presidente venezuelano Hugo Chávez tumultuar decisões decantadas há algum tempo pelos quatro sócios originais - Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Questionado se a nova composição do Mercosul dificultará uma eventual retomada das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), dada a total oposição de Chávez ao projeto, Amorim afirmou: "Nossa prioridade, neste momento, é a Rodada Doha da OMC".