Título: Patroa e empregada estão preocupadas
Autor: Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2006, Economia & Negócios, p. B7

Empregada doméstica há 37 anos, a baiana Maria Gonçalina dos Santos, de 56, soube, ontem, da medida provisória que pretende obrigar os patrões a recolher o FGTS. Nunca passou pela sua cabeça que pudesse ter esse direito. "Fundo de garantia não é só para quem trabalha em firma?", perguntou. Que não se pense que ela ficou feliz com a possibilidade de ter o benefício. Maria está preocupada. Teme que o custo de uma empregada fique alto demais. A patroa de Maria, Eulália Garcia, também pensa assim. Para ela, a medida prejudicaria os dois lados: "Pesa no bolso do empregador e falta emprego para as domésticas".

Caso a medida seja aprovada, Eulália pretende fazer um acordo com Maria e negociar o salário. Dispensá-la está fora de cogitação. Afinal, Maria só trabalhou para a família Garcia. Começou fazendo faxinas para a mãe de Eulália e foi ficando. "Agora, ela está mais velha, mais devagar, mas continua sendo insubstituível. Já é da família", diz a patroa.

A empregada Maria Aparecida da Rocha, ou Cidinha, está animada com a possibilidade de ter um fundo de garantia. Há 9 anos trabalhando com a família de Maria Elena Dantas, ela disse ter certeza de que os patrões não vão deixá-la sem o benefício". "Eles são muito corretos. Já tenho carteira assinada, férias e ganho hora extra."

Para a patroa, Maria Elena, foi uma surpresa saber que as domésticas não têm direito ao FGTS. "Pensei que ela tivesse o fundo de garantia, como qualquer outro trabalhador."

Cidinha recebe dois salários mínimos e vale-transporte. Os patrões também recolhem o INSS. Com o nascimento do primeiro filho do casal, Vitor, agora com 6 anos, a empregada passou a ser indispensável. E ela sabe disso. "Sou a dona da casa", disse. Das 7 às 19 horas, Cidinha lava, passa, cozinha, cuida do Vitor e agora, também sonha com o FGTS.