Título: 'Tio Mário pagou dívida', diz tesoureiro de Lula
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2006, Nacional, p. A7

Na primeira entrevista como tesoureiro da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o prefeito licenciado de Diadema, José de Filippi Júnior, deu uma explicação singela para a origem dos R$ 183 mil com os quais pagou uma multa judicial, em dezembro de 2003: a generosidade do "tio Mário". Trata-se do comerciante paulista Mário Moreira, morador de Diadema e dono de um mercado na capital. Tio da mulher de Filippi, Inês Maria, o comerciante emprestou R$ 150 mil. "É o tio mais rico da minha mulher. Ele tinha uma poupança de quase R$ 400 mil e emprestou R$ 150 mil. Agora (a dívida com tio Mário) já está em R$ 190 mil", disse Filippi.

O tesoureiro afirmou ter tirado R$ 15 mil de recursos próprios. O amigo e deputado estadual petista Mário Reali emprestou mais R$ 10 mil. O restante foi obtido graças a contribuições de 28 amigos que, juntos, doaram R$ 6,9 mil e a uma festa organizada pelo PT de Diadema que arrecadou R$ 1,4 mil, segundo o prefeito. Filippi mostrou os comprovantes de cada depósito feito em uma conta judicial, onde ficará o dinheiro até que o processo por improbidade, hoje no Supremo Tribunal Federal (STF), seja concluído.

Filippi explicou que pagou a multa para liberar seus bens. "Convivi um ano e meio com meus bens bloqueados pela Justiça. É um constrangimento, um transtorno." Em 1995, Filippi foi acusado pelo Ministério Público paulista de ter usado a publicidade oficial da prefeitura em benefício próprio e do PT. O logotipo trazia três estrelas e o slogan "Diadema, prefeitura municipal: cada dia melhor." "O Ministério Público entendeu que as três estrelas eram uma referência à terceira gestão seguida do PT em Diadema. Eu era o prefeito", disse, negando ter feito propaganda pessoal.

Na época, a prefeitura também foi acusada de ter patrocinado outdoors e um show da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em homenagem ao 1.º de Maio. Segundo Filippi, a CUT provou na Justiça que usou recursos próprios e esta parte do processo foi encerrada. Paga a multa, o MP questiona agora a origem dos recursos, já que os R$ 183 mil são incompatíveis com a renda do prefeito.

Assim como o presidente do PT, Ricardo Berzoini, Filippi estranhou que o MP tenha decidido investigar a origem do dinheiro semana passada, "dois anos e meio após o pagamento". "Recebi na segunda-feira um ofício incompleto, com páginas faltando. Todas as explicações serão dadas, com os nomes das pessoas que colaboraram", disse Filippi, eleito em 1992, em 2000 e reeleito em 2004.

O empréstimo de tio Mário foi motivo de risos até de Berzoini, na entrevista dos dois petistas. "Pede ao tio Mário", brincou, quando o assunto era arrecadação de recursos para a campanha. Berzoini reiterou "total confiança" em Filippi.

Com outros dois ex-prefeitos de Diadema, Filippi é alvo ainda de uma ação do MP pela contratação sem licitação do escritório do advogado e deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh, entre 1983 e 1996, quando a cidade foi governada pelo PT. Filippi também comentou o julgamento do Tribunal de Contas do Estado que considerou irregulares as contas da prefeitura de 2001 e 2002, por não cumprir a lei de aplicações mínimas em educação. "O tribunal está certo e eu acho que estou certo."