Título: PFL quer debater mais Estatuto da Igualdade Racial
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2006, Nacional, p. A12

Criticados por representantes do movimento negro, que os acusam de ter retardado a votação do projeto de Lei de Cotas na Câmara, líderes do PFL reagiram ontem afirmando que o assunto é polêmico e merece ser mais bem debatido. O deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), citado diretamente por frei David Raimundo dos Santos, do movimento Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro), disse: "Não sei quantos votos ele teve para ocupar uma cadeira na Câmara. Mas eu tive 120 mil e sei que o assunto é polêmico demais para ser votado sem uma exaustiva discussão. A própria comunidade acadêmica do País está dividida, como se viu em dois recentes manifestos."

De acordo com normas da Câmara, certos projetos podem tramitar em caráter terminativo nas comissões da Casa - o que significa que podem sair dali para o Senado sem ir ao plenário. Era o caso do projeto da Lei de Cotas. Até que líderes do PSDB e do PFL propuseram que fosse para o plenário, com novas rodadas de discussões - o que provocou críticas de representantes de organizações favoráveis à lei e de líderes petistas.

O atual líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), classificou de autoritárias as afirmações de frei David. "Isso me faz lembrar o tempo da ditadura, quando tudo se resolvia por cima, de forma autoritária. Ele quer rapidez? Pois eu quero mais debate. E o plenário da Câmara existe para isso."

Segundo Aleluia, a matéria provoca divisões até no interior dos partidos. Para ele, um assunto como esse não deve ser votado às vésperas de uma eleição. "Tudo indica que a votação vai ficar para depois das eleições", afirmou.

Para a deputada Iara Bernardi (PT-SP), que participou de comissões que analisaram o projeto, o assunto já foi exaustivamente debatido em seminários na Câmara e poderia ter ido para o Senado. Ela disse ainda que PFL e PSDB só mostraram interesse no final das discussões, quando apresentaram requerimento para que fosse a plenário. A deputada acredita que o projeto será aprovado, assim como no passado se aprovou a lei que estabelece cotas para mulheres nos partidos.