Título: Mundo condena desafio de Kim
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2006, Internacional, p. A16

A Coréia do Norte, que ontem testou sete mísseis, incluindo um que poderia atingir o território americano, provocou uma onda de condenações internacionais. As críticas foram mais intensas do que em 1998, quando o líder norte-coreano, Kim Jong-il, testou um míssil de longo alcance que sobrevoou o norte do Japão.

O sétimo míssil foi lançado à tarde e caiu no Mar do Japão, pouco antes de o Conselho de Segurança da ONU iniciar uma reunião de emergência a pedido do Japão, o país que se sentiu mais diretamente ameaçado, já que alguns mísseis caíram a 500 quilômetros da costa oeste da Ilha de Hokkaido. O Japão, apoiado pelos EUA e Grã-Bretanha, preparou um projeto de resolução proibindo todos os países de transferir fundos, material e tecnologia que possam ser usados pela Coréia do Norte em seu programa de mísseis e armas de destruição em massa. Segundo a inteligência americana, a Coréia do Norte tem material suficiente para fabricar seis ou mais bombas atômicas.

No entanto, Rússia e China deixaram claro que se opõem a qualquer sanção. Os dois países, aliados da Coréia do Norte e com poder de veto no CS, são a favor apenas de uma declaração de advertência. Diplomatas europeus admitem que as opções de sanções são limitadas, ante o grande isolamento econômico já enfrentado pela Coréia do Norte. O uso da força militar está fora de questão por causa do perigo para a Coréia do Sul.

Os testes da Coréia do Norte obtiveram pequenos resultados que ela provavelmente considerou gratificantes. O Estado comunista desafiou os EUA justamente em seu dia da independência e começou a disparar os mísseis pouco após o lançamento da nave Discovery. Talvez o menos gratificante para Pyongyang seja o resultado do principal teste, o do míssil Taepodong-2C, capaz de atingir o Alasca. Quando foi disparado, caiu no Mar do Japão 40 segundos depois. Para o governo americano, o teste foi um fracasso.

Não está claro por que a Coréia do Norte lançou outros seis mísseis de curto e médio alcances, que ela testou no passado com sucesso. "Uma teoria é que eles sabiam haver a probabilidade de que as coisas com o Taepodong-2 não saíssem muito bem, então seria bom disparar alguns mísseis que funcionassem", disse um funcionário americano de alto escalão. Segundo outros funcionários americanos citados pela TV NBC, a Coréia do Norte prepara o teste de mais um Taepodong-2, que ainda não está, porém, na plataforma de lançamento. Outros quatro mísseis menores já estão prontos para ser lançados, informou a imprensa sul-coreana.

Os testes foram considerados provocação por vários países e causaram preocupação. Mas o presidente americano, George W. Bush, disse que os testes não reduziram sua vontade de resolver o impasse do programa nuclear norte-coreano. "Esta é uma oportunidade de lembrar à comunidade internacional que precisamos trabalhar juntos para convencer a Coréia do Norte a abandonar o programa de armas", disse Bush, que anos atrás incluiu a Coréia do Norte num "eixo do mal".

Um diplomata disse que a União Européia planeja manter sua ajuda humanitária à Coréia do Norte. Mas a Coréia do Sul disse que suspenderá o envio de 500 mil toneladas de arroz e 100 mil toneladas de fertilizantes, parte de sua política de cooperação pacífica para obter uma reconciliação e posteriormente uma reunificação.