Título: Marina faz exigência a novo colega
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2006, Vida&, p. A18

Não há motivos para que a fronteira agrícola do País seja expandida gerando o desmatamento na Amazônia. A avaliação é da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que cobra do Ministério da Agricultura um plano de desenvolvimento sustentável para o setor.

"Existem 160 mil quilômetros quadrados já convertidos para a agricultura e que hoje estão abandonados na Amazônia. Por isso o Ministério da Agricultura precisa de um plano. Se usarmos esse território de forma semi-intensiva, podemos dobrar nossa capacidade de produção de grãos e de criação de gado sem derrubar uma só árvore", garante Marina, que esteve ontem em Genebra para defender a posição brasileira de limitar a entrada de pneus usados no País.

Segundo Marina, em 2004 o Ministério da Agricultura recebeu a missão da Casa Civil de preparar o plano de utilização das áreas abandonadas. Mas até hoje ele não está pronto. Por ano, são desmatados 18 mil hectares de selva. "Podemos desenvolver a agricultura e a pecuária sem derrubar um pé de mato. A Embrapa tem estudos e o País já tem tecnologia para isso. A conversão de floresta em terra agrícola precisa ser reduzida."

A ministra evita criticar o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, recém-saído do governo, mas espera que o novo chefe da pasta, Guedes Pinto, conclua o projeto até o final do ano. "Temos de trabalhar para barrar essa frente predatória", afirmou. Segundo ela, depois de um aumento do desmatamento de 27% em 2002, o governo conseguiu reduzir a taxa em 31% em 2005. "Espero que neste ano caia de novo", disse, sem arriscar de quanto será a redução e deixando claro que o governo não tem uma meta.

PNEUS O objetivo da visita de Marina Silva a Genebra é evitar que o Brasil se torne depósito de pneus usados fabricados na Europa. Ontem, a Organização Mundial do Comércio (OMC) iniciou as audiências para julgar a queixa da União Européia (UE) de que o Brasil discrimina os países dos quais importa. O Uruguai exporta para o País e a UE pleiteia o mesmo.

"Produzimos e importamos 40 milhões de pneus por ano e reformamos 11 milhões. Não temos estrutura para mais", disse a ministra. Para defender essa posição, o governo Luiz Inácio Lula da Silva decidiu, pela primeira vez, enviar um ministro a Genebra, além de uma comissão que inclui representantes do programa contra a dengue no País para tentar convencer os juízes da OMC.

Se os árbitros da entidade julgarem procedente a queixa européia, podem obrigar o Brasil a retirar a lei que proíbe a importação. Na realidade, cerca de 9 milhões de pneus usados já entram no País todos os anos graças a liminares na Justiça.

Na Europa, a reutilização de pneus ganhará novas restrições a partir da semana que vem - um problema para a destinação de cerca de 80 milhões de pneus que não poderão mais ser jogados em aterros. Além disso, segundo as estimativas do governo, o mercado de pneus usados na Europa caiu 40% nos últimos anos, o que torna os países emergentes potenciais mercados.

"Não queremos ser a solução para a Europa sobre onde vão depositar o lixo", disse a ministra. Ela lembrou que 709 mil pessoas foram contaminadas pela dengue em 2002 - 25% desses casos provocados pela proliferação de mosquitos em pneus abandonados. Uma solução para o caso deve ser anunciada pela OMC no próximo semestre.