Título: Importações de bens de consumo crescem 35,4%
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2006, Economia & Negócios, p. B5

As importações, que retiraram vigor do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e começam a substituir a produção nacional, avançam agora no grupo de bens de consumo. Nos últimos 12 meses encerrados em julho, as compras externas de produtos finais aumentaram 35,4% - bem acima do crescimento de 20,1% das importações totais.

Projeção da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) indica que ainda este ano as importações de bens de consumo não-duráveis repetirão o nível recorde de oito anos atrás e, provavelmente até o ano que vem, o mesmo ocorrerá com os bens de consumo duráveis. Segundo a Funcex, a importação desses itens cresce mais que a produção local e ocupa mais espaço na demanda doméstica total.

"As importações estão voltando ao normal. Não há preocupação nesse sentido. Entre 2001 e 2002, houve uma forte contração das compras externas, que estão se recuperando", pondera Fernando Ribeiro, economista da Funcex, citando que o peso das importações ainda é pequeno na economia. Se de um lado reduzem a produção doméstica, as importações ajudam a segurar a inflação e aumentam o acesso a produtos, avalia o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Armando Castelar.

Levantamento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostra que, no grupo dos 20 produtos mais importados, estão os automóveis de passageiros (crescimento de 109,8%), aparelhos de gravação e reprodução de som e voz (74,3%), além de itens como peixes secos e salgados (35,3%) e azeite de oliva (33%).

Os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) permitem ver variações específicas de importação nos sete primeiros meses deste ano em comparação ao mesmo período em 2004, quando o real valia cerca de R$ 3,00. As importações de fio dental cresceram 102%, geladeiras dúplex, 745%, chocolate em barras, 207%, preservativos, 169% e maçã, 117%. A importação de instrumentos musicais de sopro, como saxofone, avançou quase 2.000%.

O diretor comercial do maior fabricante nacional, Roberto Weingrill Jr, da Weril, confirma a forte entrada de produto chinês no mercado brasileiro. "A China tem estratégia de entrar com preço (baixo). Onde vai encontrando brecha, vai colocando produto", diz. Segundo ele, o câmbio favorável às importações e a baixa carga tributária de países exportadores explicam, em grande parte, essa explosão de importações.

Em produtos agrícolas, ocorre o mesmo movimento. O real valorizado reduziu o custo do importador e a diminuição da safra de maçã permitiram o avanço dos produtores do Chile e Argentina. "A queda da produção nacional abriu espaço para a mercadoria importada", diz o executivo Ricardo Vaz, diretor de operação da Agrícola Fraiburgo, uma das maiores do setor no País. Além do expressivo crescimento das importações, as exportações do setor caíram à metade.