Título: Corrupção de ricos é ser paraíso fiscal
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2006, Economia & Negócios, p. B9

O Reino Unido, os Estados Unidos e a Suíça deveriam liderar o ranking mundial das nações mais corruptas, de acordo com um estudo divulgado neste fim de semana em uma conferência econômica realizada em Londres. A falha desses e de outros países desenvolvidos em apertar paraísos fiscais offshore é responsável por mais sofrimento do que qualquer ato de corrupção cometido por líderes do Terceiro Mundo.

As conclusões são do economista John Chirstensen, ex-consultor dos governos do Reino Unido e das Ilhas Jersey, agora diretor da Tax Justice Network. Ele foi um dos palestrantes de uma conferência promovida pelo Grupo de Pesquisa de Geografia Econômica. 'Colocaria o Reino Unido no topo da lista dos países mais corruptos.' O especialista explicou que essa afirmação toma como base o fato de a Grã-Bretanha ser um paraíso fiscal e, além disso, defender essa função para seus territórios além-mar e para as dependências da Coroa Britânica. Ele acrescentou que o país também 'questiona a efetividade' da tentativa de a União Européia de fechar as aberturas tributárias.

Christensen disse que é hora de 'virar o foco atual na corrupção e no seu desenvolvimento'. Ele argumentou que tem havido muita ênfase no combate à corrupção nos países do Terceiro Mundo, mas não se vê o mesmo empenho no que se refere ao abuso, pelos países ricos, da utilização de mecanismos que permite que alguns deles sejam paraísos fiscais.

De acordo com o especialista, a Transparência Internacional, grupo que faz pressão contra a corrupção no mundo, reforça os esteriótipos, ao pintar as nações africanas como as mais corruptas do planeta. Em contraste, Christensen disse que muitos países listados como os menos corruptos são paraísos fiscais, como Cingapura, Suíça, Grã-Bretanha, Luxemburgo, Hong Kong, Estados Unidos, Bélgica e Irlanda. Um porta-voz da Transparência Internacional em Berlim disse que o índice calculado pela instituição é baseado na seguinte definição de corrupção: 'abuso de poder em benefício próprio'. Ele disse também que a entidade examina os dados de países ricos sob todas as formas de corrupção.

Christensen disse que, por meio de um processo de discrição, a economia global foi reconfigurada para adaptar-se aos interesses de uma classe de 'super ricos', que deposita sua riqueza em paraísos fiscais offshore, como Jersey, Mônaco, Suíça e Ilhas Cayman. 'Essas pessoas vivem mais ou menos nos países que escolhem. Preocupamse principalmente em ficar ricos', criticou. 'Descolados do conceito e prática de cidadania, eles manobraram para ajudar a si mesmos, numa extensão notável, a fugir da obrigação de contribuir com o tesouro nacional.'