Título: A reforma do FMI
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2006, Economia & Negócios, p. B9

Do México ao Leste da Ásia até Rússia e Argentina, o período entre 1995 e 2001 foi marcado pelas crises financeiras. Esses últimos cinco anos têm sido tranqüilos, deixando o Fundo Monetário Internacional (FMI), o principal agente na solução de problemas econômicos, sem muita preocupação, podendo se ocupar da sua própria crise de identidade. A liderança do FMI vem respondendo a isso, procurando modernizar sua estrutura e sua missão. O governo de George W.Bush, que muitas vezes agiu desastradamente em suas tratativas com as instituições multilaterais, teve um papel-chave de apoio a essa renovação.

O sinal mais concreto dos avanços do Fundo surgiu na quinta-feira da semana passada, quando a direção do FMI autorizou China, Coréia do Sul, Turquia e México a aumentarem seu suporte financeiro à instituição em troca de um pouco mais de voz nas políticas e empréstimos do Fundo.

Este é o tipo de reforma necessária também no âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas: para terem legitimidade, as instituições multilaterais precisam refletir a distribuição global de poder como é hoje e não como foi à época em que elas foram criadas, há mais de meio século. A diretoria do FMI também declarou sua intenção de fortalecer a posição de alguns países cujo peso econômico aumentou, que também poderão influir mais dentro da organização. Outros países terão seu poder reduzido, embora haja disposições especiais para evitar que o pequeno poder de influência da África diminua ainda mais.

Ao mesmo tempo, o Fundo Monetário Internacional repensa de que forma será útil. Grande parte da sua energia é aplicada na análise das condições econômicas de cada país membro.

Quando esses membros estão em crise e precisam tomar empréstimos, há um ponto fundamental, ou seja, o Fundo precisa conhecer bem seus clientes

para recomendar as prescrições econômicas que vêm juntamente com o empréstimo. Porém, quando o país não está em crise, seu ministro das finanças não deve achar que uma equipe de visitantes de Washington entende melhor a economia do país do que ele próprio. Dessa forma, o FMI precisa afirmar seu direito de instituição relevante procurando tirar o máximo proveito da sua expertise internacional . Se um governo está com problemas lutando com o modelo do seu imposto de valor agregado, o FMI pode enfatizar seu conhecimento sobre a reforma do IVA em outros países.

O Fundo também pretende se tornar um agente com soluções para problemas financeiros que atravessem fronteiras.

Atualmente, os fluxos de capital e comércio no plano global estão desequilibrados. Os Estados Unidos administram um imenso déficit comercial e dependem de entradas igualmente imensas de empréstimo estrangeiro, enquanto o Leste da Ásia e os países produtores de petróleo registram excedentes comerciais e de capital.

Os encontros anuais de cúpula do Grupo dos Oito são o melhor lugar para desativar essa bomba-relógio, uma vez que países com enormes excedentes, como China e Arábia Saudita, não são membros do G-8, mas o FMI está começando a convocar reuniões com protagonistas-chave. A idéia é forjar um acordo comum sobre políticas que cada país deve buscar para se livrar dos desequilíbrios globais sem precipitar uma crise.

O FMI não está livre de perigos. Na ausência de crises, está emprestando menos, o que provoca uma contenção no seu orçamento. Mas é uma instituição que vale a pena preservar mesmo que seja em novo formato. O mundo tem poucas instituições globais competentes que podem ajudar na solução de problemas globais e seria negligente perder uma delas. O governo Bush, que, durante seu primeiro mandato assumiu uma posição de confronto em relação ao FMI, está certo ao apoiar agora uma modernização pragmática dessa instituição. Posteriormente, deve estender essa abordagem para uma reforma das Nações Unidas.