Título: Lula quer reforma política para alavancar o NE
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/07/2006, Nacional, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ontem em Olinda (PE) que, se for eleito para um segundo mandato, vai se dedicar a uma "reforma política profunda". A uma platéia formada eminentemente de parlamentares e políticos do Nordeste - muitos deles candidatos -, atribuiu diretamente ao Congresso as mazelas da região.

Lula atacou "partidos laranjas" e disse que a estrutura política do País é uma "ferida, acúmulos de deformações", apontando para sanguessugas e mensaleiros. "Ou temos a coragem de mudar isso com certa profundidade ou nós, daqui a 20 anos, estaremos amargando as mesmas coisas que estamos amargando", enfatizou. "Não pensem que o erro de cada um é individual ou partidário. O que acontece neste País são acúmulos de deformações que existem na estrutura política."

O presidente defendeu retoques até nos estatutos da Câmara e do Senado. "Uma reforma política passa pela reorganização das estruturas partidárias, desde a mudança interna do regimento das duas Casas (...) até a discussão sobre o mandato de pessoas e a existência ou não de partidos laranjas ou de partidos de verdade."

Lula chegou a Recife no sábado para o primeiro comício de campanha. À noite, com Marisa, sua mulher, jantou na casa do prefeito da capital pernambucana, João Paulo (PT). À mesa, bode frito e taças de vinho. Dois de seus ex-ministros, Humberto Costa (Saúde) e Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia), candidatos ao governo estadual, compareceram.

Ontem, depois de ser despertado por um protesto de policiais ferroviários federais à porta do hotel onde se hospedou, Lula viajou a Olinda para reunião que fora agendada com intelectuais, doutores e professores na Academia Santa Gertrudes, dirigida por missionárias de Tutzing, na Alemanha. A pauta era debater soluções para o Nordeste, mas o encontro transformou-se em ato político que se arrastou por quase seis horas. Lula pediu votos, prometeu ações exclusivas para a região e ressaltou que vai insistir na marca de seu governo, os programas sociais como o Bolsa-Família. "Se é assistencialismo, eu não sei. O dado concreto é que está levando muita proteína para o buchinho das crianças", afirmou.

O anfiteatro de Santa Gertrudes recebeu cerca de 80 pessoas. "Não se enganem. Precisamos fazer reforma porque só assim iremos elevar o nível de compreensão da sociedade de uma política brasileira e aumentar o nível de responsabilidade do povo para com os políticos."

Alertou a platéia sobre a batalha que enfrentará. "Vamos fazer nossa parte com a mesma tranqüilidade que fizemos as outras batalhas. Não vamos baixar o nível de campanha, vocês vão perceber que não vou falar mal de nenhum candidato. Também não vou falar bem. Não aceitem provocações."