Título: Alckmin vê desvio de recursos no governo Lula
Autor: Alexandra Penhalver
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/07/2006, Nacional, p. A6

O candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, reagiu ontem às criticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que declarou não tolerar que o chamem de "desonesto". "O presidente fica bravo com a notícia, mas não fica bravo com o fato", afirmou. "Como você pode chamar um governo que tem mensalão, escândalo dos Correios, Operação Sanguessuga, valerioduto? Para onde se olha se vê desvio de dinheiro público." O tucano esteve ontem no 9.º Festival do Japão, no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo.

Alckmin ainda enviou recado para Lula, que anteontem mandou seus acusadores lavarem "a boca com lisoforme". "É tudo palavrório. O governo é violento, autoritário com o caseiro, o Francenildo (dos Santos Costa), mas é fraquinho, fraquinho com o crime", afirmou. "Tanto é que se vê mais um escândalo, agora no Ministério da Saúde. Aliás, coincidentemente, o presidente fez esse discurso ao lado do ex-ministro da Saúde (Humberto Costa, PT, candidato ao governo de Pernambuco) responsável no caso onde houve a Operação Sanguessuga." O caseiro teve o sigilo bancário violado após dizer que o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, freqüentava mansão alugada em Brasília pela República de Ribeirão.

Para o candidato tucano, o governo não aprendeu com a crise. "Os Correios acabam de ser loteados sem critério técnico. O critério foi meramente eleitoral para ganhar eleição, e isso é que está errado."

TAIKO

Vestido com um quimono amarelo, presente dos membros da Keren (Federação das Associações das Províncias do Japão no Brasil), Alckmin visitou a feira, posou para fotos com muitos que o abordaram e até arriscou tocar um tambor taiko. Depois, concedeu entrevista à rádio Fênix - instalada na feira -, que transmite a programação para a comunidade oriental pela internet. Ele conversou com três "ouvintes" brasileiros - Henrique, que está em Nova Iorque, Naomi, do Japão, e Viviane, de Campinas (SP).

Na praça de alimentação do festival, Alckmin comeu tempurá (massa frita com camarão e legumes), diante da alegria das mulheres que estavam na barraca. Depois, degustou o torimeshi - arroz cozido no vapor com shitake e legumes. O candidato elogiou a "saudável" culinária oriental.

Alckmin fez questão de lembrar que 2008 será o centenário da imigração japonesa no Brasil, que ocorreu quando o País era a "terra das oportunidades". Lembrou que, hoje, acontece o inverso. "Há 270 mil brasileiros vivendo no Japão", disse. Para mantê-los no País, o candidato afirmou que é preciso "retomar o crescimento, gerar emprego e estimular os empreendedores".

MERCOSUL POLITIZADO

Para Alckmin, a intenção de Lula de incluir Bolívia, México e Cuba no Mercosul seria mais política do que produtiva. "Vejo que estamos adotando uma politização, colocando a política ideológica à frente do interesse nacional." Segundo ele, os governos têm feito acordos comerciais de poucos resultados. "A nossa tradição é o multilateralismo. É preciso fortalecer, sim, o Mercosul mas também fortalecer o nosso mercado com a União Européia."

Na semana passada, o presidente Lula, que assumiu a coordenação do Mercosul, declarou estar disposto a agregar Bolívia, Cuba e México ao bloco.

O candidato do PSDB reafirmou que é preciso fazer uma política fiscal de melhor qualidade, com responsabilidade, qualidade do gasto público, câmbio flutuante e metas de inflação. "Mas é preciso voltar a crescer. Porque estabilidade é um pré-requisito, mas não é um fim em si próprio", disse. "O governo não deve ter como meta a estabilidade, deve ter como meta melhorar a vida do povo brasileiro."