Título: Para Heloísa, juro tira de favelados e dá aos ricos
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/07/2006, Nacional, p. A6

A candidata à Presidência Heloísa Helena (PSOL), em discurso ontem para 400 representantes de micro e pequenas empresas, em São Paulo, disse que as atuais taxas de juros, associadas ao esquema tributário, mantêm em andamento "uma brutal e avassaladora transferência de renda do pobre da favela, da classe média assalariada e do pequeno e médio empresário para o capital financeiro".

Na sua opinião, é possível reduzir a taxa de juros pela metade, sem provocar abalos na economia, e em seguida baixar a carga tributária. Para a senadora, que foi aplaudida de pé pela platéia, o governo não se interessa pela reforma tributária porque isso significaria, a curto prazo, diminuição da arrecadação e do volume de dinheiro usado para pagamento de juros da dívida. Baixar os impostos no País, afirmou a candidata, faria mais bem às famílias pobres do Brasil do que programas como Bolsa-Família.

Ladeada pelo deputado federal Gerson Gabrielli, do PFL da Bahia, que a convidou para falar no encerramento do 7.º Encontro Latino-Americano de Líderes de Pequenas e Médias Empresas e que lhe dirigiu vários elogios, Heloísa arrancou aplausos da platéia em vários momentos de seu discurso de 35 minutos.

"Qual é a justificativa para o fato de uma mãe pobre, quando vai comprar um lápis de grafite para o filho, do mais simples que existe, deixar lá 40% de imposto?", perguntou, momento em que foi interrompida por aplausos. "Por que não isentar de tributos determinados produtos, para que a população compre mais, o comércio venda mais e a agricultura e a indústria produzam mais?"

Diante de uma platéia bastante receptiva, ela repisou várias vezes que os pequenos pagam mais impostos no Brasil do que os grandes: "A mais simples funcionária deste hotel, se tiver um talão de cheques, paga CPMF. Os grandes especuladores não pagam Imposto de Renda nem CPMF. Como é que pode?", indagou a candidata.

CORRUPÇÃO

Numa das referências à corrupção na gestão Luiz Inácio Lula da Silva, seu adversário eleitoral, disse: "Não arranjo sequer estágio para o meu filho, que é bom estudante de direito, enquanto o filho do presidente de repente ganha R$ 15 milhões de uma empresa pública. Como é que pode isso?"

Sobre a corrupção no Congresso, disse que chegou a níveis tão elevados que alguns políticos se consideram virtuosos pelo fato de serem honestos, quando a honestidade é obrigação do cidadão.

Em entrevista coletiva à imprensa após o evento, afirmou que suas propostas de mudança tributária e nas taxas de juros podem ser feitas dentro das leis que estão em vigor.

A respeito do programa Bolsa-Família, carro-chefe do presidente Lula, negou que vá extingui-lo, mas enfatizou que seria melhor dar impulso à economia e criar empregos. "É muito mais importante fazer a flexibilidade tributária para o dono da loja poder empregar o pai e a mãe de família que são sustentados pelo Bolsa-Família."