Título: Operação mais ousada será comboio para Damasco
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/07/2006, Internacional, p. A8

Desde que começou a retirada de brasileiros do Líbano há oito dias, o Itamaraty transportou 429 pessoas - das quais 72 saíram ontem, pela primeira vez em um barco canadense, do porto de Beirute. Mas é hoje a data prevista para a operação mais ousada até agora. Trata-se da retirada de cerca de 800 pessoas que estão no Vale do Bekaa, onde vive a maioria dos brasileiros.

De acordo com os organizadores voluntários, a primeira saída de dez ônibus será às 7 horas da manhã da localidade de Khiara, ao sul de Zahle. Segundo o planejado, o comboio irá até Damasco, retornará e, às 15 horas, fará a segunda viagem. Até o começo da noite de ontem em Beirute, havia dúvidas sobre o roteiro que seria seguido. Autoridades israelenses contactadas pela embaixada brasileira em Tel-Aviv teriam avisado que dariam permissão apenas para uma saída em direção ao norte em vez do caminho mais curto, rumo ao leste. Gihad Azanki, o líder da retirada, e seu amigo Hassan Korfan, conhecido como Mineiro, avisaram o consulado que não trocariam um percurso de 20 minutos até a fronteira síria por outro de 7 horas. Foi então que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, telefonou para a sua correspondente israelense, Tzipi Livni, e para a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice. Às 22:31, horário local, o cônsul-geral do Brasil em Beirute, Michael Gepp, voltou a ligar para os líderes da retirada para confirmar a saída pelo caminho mais curto (ler detalhes ao lado).

Depois de um adiamento e um cancelamento, os brasileiros tinham perdido a esperança na retirada. Após a última tentativa frustrada, na sexta-feira, quando a operação foi cancelada em cima da hora, o cônsul Gepp precisou convencer os líderes a tentar outra vez.

Ainda ontem, três localidades próximas aos lugares onde há forte concentração de brasileiros no vale foram atacadas. Em Almanara, uma fábrica de tecidos foi destruída. O mesmo aconteceu com uma fábrica de casas pré-fabricadas em Marj e uma usina de açúcar em Majeel Anjar, o que aumentou o nervosismo na região.

No Vale do Bekaa vivem entre 4 mil e 5 mil brasileiros. É gente que imigrou ou nasceu no Brasil e depois se mudou para o Líbano. Há também, embora em menor número, pessoas que passam uma parte do ano em cada país.