Título: Para Via Campesina, há luta de classes no País
Autor: Angela Lacerda e Bruno Winckler
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/07/2006, Nacional, p. A5

Em meio à dificuldade de conseguir apoio do agronegócio ao projeto de reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ouviu durante solenidade no Planalto críticas ao setor e elogios à política agrícola. Num duro discurso em cerimônia de sanção da Lei da Agricultura Familiar, um representante da Via Campesina, Altacir Bund, acusou o "latifúndio" de incentivar a violência no campo. "Não queremos retroceder neste momento histórico. Não queremos de volta a burguesia no poder." O dirigente da Via Campesina afirmou que a lei demarca "de fato" a luta de classe no campo. Disse que, "se não foi possível a reforma agrária até agora, terá de ser daqui para frente".

Ao defender Lula, Bund condenou setores do agronegócio por espalhar faixas chamando o governo de "praga da agricultura". "Quem pratica isso (praga) é a elite, a burguesia agrária que está há 500 anos no poder."

Lula, numa fala de 15 minutos, amenizou os ataques e ressaltou que a agricultura familiar não é incompatível com o agronegócio. Mas admitiu que a lei não tem unanimidade. "Nem toda a sociedade está pensando como o governo. Ela (agricultura familiar) não é incompatível com a agricultura empresarial", comentou, acrescentando que "feliz o País que tem dois poderes extraordinários no campo". Lula elogiou sua gestão, citando a "sensatez" que teve na relação com o setor. Comentou que tem "a consciência tranqüila", pois fez "muito mais do que muita gente esperava".