Título: MST chega ao 24º Estado e invade área em Roraima
Autor: Angela Lacerda e Bruno Winckler
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/07/2006, Nacional, p. A5

O Movimento dos Sem-Terra (MST) acaba de fincar sua bandeira em Roraima, com a invasão anteontem da antiga Fazenda Bamerindus, a 30 quilômetros de Boa Vista. "Chegamos à região para frear o agronegócio", disse Jaime Amorim, integrante da direção nacional e encarregado de liderar a mobilização na área, exportando "tecnologia de invasão" do Nordeste.

Na Amazônia, nova fronteira do MST, o objetivo maior será, segundo Amorim, "a defesa da biodiversidade e da demarcação e o respeito das terras indígenas e da agricultura camponesa". Agora, o movimento está presente em 24 unidades da Federação - só escaparam Amazonas, Acre e Amapá.

"Isto aqui é um campo vasto e fértil, que está atraindo grandes empresários da soja, do gado e do arroz", avaliou ele ontem, em entrevista ao Estado, referindo-se à terra ocupada anteontem por 220 famílias. Na área, segundo o Incra, funcionava um projeto de assentamento que havia dividido a fazenda, de cerca de 70 mil hectares, em 903 lotes - alguns já com assentados. O MST sustenta que a área estava sendo invadida por grandes produtores privados.

Há cinco anos, o governo estadual convidou entre 30 e 50 agricultores de soja de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais a mudar-se para Roraima e iniciar o plantio de soja no local. Segundo Germano Brews, do Departamento de Produção Agropecuária de Roraima, o fato de grande parte do Estado ser composto pelo cerrado ajudou o incentivo. Contudo, ele lamenta que a soja tenha perdido espaço, bem como investimentos. "Em 2002, tivemos 12 mil hectares plantados. Neste ano, a área deve diminuir para 9 mil."

O líder do MST está acompanhado, na nova missão, de dirigentes regionais do movimento no Pará e Maranhão. Amorim calcula que há cerca de 30 mil famílias de agricultores sem terra em Roraima, à espera de organização. "Estamos aqui para ajudar os companheiros a construir um modelo de assentamento sustentável, de forma que se possa conviver com a floresta e o extrativismo de madeira e produzir alimentos", disse ele, ao observar que os assentamentos na região são "tradicionais" - o sem-terra ganha a terra, mas não recebe apoio.

"Eles terminam abandonando a terra e indo pedir esmola na cidade", completou Alexandre Conceição, outro dirigente de Pernambuco que visitou Roraima neste ano para estudar a região, como parte da estratégia.

"Roraima é terra de ninguém", destacou ele, já de volta a Pernambuco.