Título: No berço do PT, Heloísa culpa presidente por desemprego
Autor: Vera Rosa e Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/07/2006, Nacional, p. A6

Nas escadarias da igreja da Praça da Matriz de São Bernardo do Campo, no berço do PT, a candidata do PSOL à Presidência da República, Heloísa Helena, disse ontem pela manhã que a política econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva desestrutura o setor produtivo do País e provoca desemprego nas montadoras.

"Os juros altos, o câmbio baixo e os problemas com as exportações estão levando à desestruturação de grandes montadoras e a milhares de desempregos, não apenas dentro das fábricas, mas desde os fornecedores de peças aos revendedores de automóveis", afirmou. A candidata foi a São Bernardo a convite das comissões de fábrica da Volkswagen e da oposição do Sindicatos dos Metalúrgicos. Pelas ruas onde, há três décadas, o sindicalista Lula incitava os trabalhadores a resistir à política econômica do governo, ela fez uma rápida caminhada pela Rua Marechal Deodoro - que serviu de cenário, na época, para os confrontos entre a polícia do regime militar e os metalúrgicos grevistas.

Ao chegar às escadarias da Matriz, na qual seguidas vezes se esconderam os grevistas perseguidos, a candidata ouviu dos metalúrgicos críticas ao governo e os temores de uma nova onda de demissões. "O governo e seus ministros mudaram de lado", dizia o manifesto entregue a Heloísa, numa referência ao passado do PT. Era a senha para a candidata seguir em frente, na luta para herdar os votos dos petistas históricos descontentes com Lula e sua política. Nos idos de 1970, o PT começava a se esboçar (seria fundado em 1979), e Lula como candidato a presidente chegou a 16% dos votos em 1989, no primeiro turno contra Fernando Collor. Heloísa conseguiu 10% no Datafolha da semana passada. (Nas eleições seguintes, contra Fernando Henrique Cardoso, Lula chegou no primeiro turno a 27%, em 1994, e 31,7% em 1998).

Um pouco mais tarde, na Avenida Paulista, em São Paulo, a candidata afirmou que a política neoliberal iniciada com Fernando Henrique e mantida por Lula "sabota o desenvolvimento econômico e provoca a destruição de milhões de postos de trabalho". Também disse que está na hora de o Brasil dizer aos banqueiros que "acabou a boquinha" e "chegou a vez do povo brasileiro".

Em seguida, fez uma caminhada, entre a agência do Banco Central e o Museu de Artes de São Paulo (Masp), acompanhada por militantes do PSOL, do PSTU e do PCB. Nos discursos, também deixou claro que vai batalhar pelo voto feminino. "Será com a mão de uma mulher, com a ajuda de companheiros e companheiras, que iremos arrancar as cercas dos currais eleitorais", afirmou.