Título: Dívida pública volta a superar R$ 1 trilhão
Autor: Adriana Fernandes e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/07/2006, Economia & Negócios, p. B5

A dívida interna federal em títulos voltou a subir em junho, atingindo R$ 1,01 trilhão, segundo dados divulgados ontem pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central (BC). De maio para junho, a dívida cresceu R$ 17 bilhões (1,7%) em decorrência da absorção de R$ 10,5 bilhões em juros e R$ 6,5 bilhões em novas emissões de papéis.

Em maio, a dívida havia caído para R$ 999,10 bilhões porque o Tesouro resgatou um grande volume de papéis e não fez novas emissões em razão do nervosismo no mercado financeiro.

As turbulências continuaram criando problemas para a dívida pública em junho, mas em menor intensidade. "A volatilidade externa ainda afeta o desempenho do nosso mercado, mas junho foi mais positivo que maio, por conta do cenário interno benigno, e em julho está melhor", explicou o coordenador de Operações da Dívida Pública do Tesouro, Manuel Augusto Silva.

Segundo ele, o mercado brasileiro ainda acompanha o comportamento externo, mas está mais favorável por causa da divulgação de índices de inflação positivos e da melhora da nota de risco do Brasil.

Em junho, o Tesouro voltou a oferecer Letras Financeiras do Tesouro (LFT), que não eram leiloados desde fevereiro. São papéis corrigidos no vencimento (pós-fixados) pela variação da taxa Selic. Esse é o título preferido pelo mercado em momentos de incerteza.

O Tesouro, porém, tem como meta acabar com as LFTs, que deixam a dívida pública muito sensível às variações dos juros. O governo prefere se financiar com papéis prefixados, como as Letras Financeiras do Tesouro (LTN), cuja taxa de juro é determinada no leilão (prefixada). Esse papel dá mais previsibilidade ao comportamento da dívida.

Por causa das turbulências, a estratégia de reduzir a quantidade de LFTs no mercado foi atrapalhada. A parcela desses papéis do total da dívida interna federal continua em queda, mas o ritmo de redução diminuiu em junho, mês de pico do stress no mercado por causa das incertezas com a política de juros dos Estados Unidos.

Do total de R$ 41,1 bilhões de emissões em junho, 44% foram de LFTs e 55%, de títulos prefixados. Ainda assim, a participação das LFTs no total da dívida caiu de 44,07% para 42,52% e a de prefixados subiu de 29,55% para 31,45%. O prazo médio da dívida permaneceu estável em 29,2 meses e a parcela a vencer nos próximos 12 meses aumentou de 40,1% para 41,1%.

O coordenador de Operações da Dívida Pública informou que, se as condições do mercado melhorarem, a parcela das LFTs na dívida pode cair para 39%. Para isso, é necessário que o Tesouro consiga emitir R$ 86 bilhões em papéis prefixados de agosto a dezembro.

Segundo ele, o processo mais rápido de redução das LFTs que ocorreu no início do ano está ajudando o Tesouro a enfrentar o momento de volatilidade. "Estamos numa posição confortável", disse o coordenador.