Título: Voto de protesto explica subida de Heloísa Helena
Autor: Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2006, Nacional, p. A5

O apreciável crescimento eleitoral da candidata do PSOL, Heloísa Helena - de 6% para 10%, na pesquisa Datafolha divulgada anteontem -, acrescentou à disputa presidencial, além da possibilidade concreta de um segundo turno, um novo componente: o voto de protesto.

"É um fenômeno espalhado por várias regiões, mas bem mais intenso no Sul do País", observa o diretor do Datafolha, Mauro Paulino. "Mais especificamente no Rio Grande do Sul." Enquanto os dois principais candidatos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o tucano Geraldo Alckmin (PSDB), mantiveram praticamente as mesmas posições na soma geral, o total de eleitores da senadora mais que dobrou naquela região, indo de 6% para 13%. "E quem pagou foi Alckmin, que encolheu de 37% para 31%. Ele liderava no Sul e agora empata com Lula em 31%", diz Paulino. Mas, segundo ele, não dá para saber ainda se é uma tendência, "pois foi a primeira vez que se captou essa mudança." Ele ressalta, ainda, que Heloísa cresceu entre eleitores de instrução superior, passando entre eles de 12% para 18% dos votos (ante 31% de Lula e 36% de Alckmin).

O cientista político Carlos Pereira, da Universidade de Michigan, chama a atenção para outro aspecto: "É significativo que a senadora tenha tal crescimento especialmente em Porto Alegre, onde o PT teve três gestões consecutivas". Pereira lembra que o grau de insatisfação do eleitorado da cidade com os administradores petistas é considerável.

SEM OPÇÃO

Mas há outros indícios, na própria pesquisa, dessa disposição para o protesto. O próprio Datafolha perguntou aos 6.264 eleitores consultados se escolhiam seu candidato "porque é o ideal" ou "por não haver opção melhor". Lula ficou bem e Heloísa ficou mal nessa tabela. Há 59% que consideraram Lula o ideal e 36% dizem tê-lo indicado por falta de opção melhor. Com ela, a ordem se inverte. Apenas 44% a consideram a melhor solução, enquanto outros 51% a escolheram por exclusão. O tucano Alckmin ficou no meio termo: 50% de eleitores convictos, 47% que o acham o menos ruim.

O cientista social Rubens Figueiredo, do Cepac, também vê na ascensão de Heloísa um protesto, mas "dirigido contra dois candidatos que ao eleitorado parecem politicamente semelhantes, com as mesmas propostas sociais". E seu sucesso não se deve apenas à exposição na mídia: "O Cristovam Buarque (PDT) também apareceu na TV e não cresceu", lembra ele.

Além disso, prossegue Figueiredo, pesa o fato de ela ser mulher, "que tem a imagem de ser mais honesta, mais organizada, menos cínica".

Outra avaliação dele é que Heloísa "vem recebendo apoio de um eleitorado que, em boa parte, está satisfeito com o governo". O crescimento da senadora surpreende "por ocorrer em um momento morno da campanha". É que ela "tem um perfil e um estilo interessante. O discurso do inconformismo, de combate à injustiça" .