Título: Condutora ou passageira
Autor: Dora Kramer
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2006, Nacional, p. A8

Não adianta simular surpresa nem transformar a subida de Heloísa Helena nas pesquisas numa grande novidade, porque isso denota ausência de discernimento ou falta de assunto. Era óbvio que a senadora candidata a presidente da República pelo PSOL ganharia pontos, como é evidente que os ganhará em quantidade crescente.

Todos os especialistas e diretores de institutos de pesquisa diziam isso desde que a senadora definiu sua candidatura. O PT também estava cansado de saber - ou pelos menos os mais sensatos sabiam - que aquela expulsão seria cobrada com juros e, como se dizia antigamente, correção monetária.

Mulher, valente, amena no trato, uma fera na tribuna, símbolo da resistência da velha esquerda, vítima do autoritarismo do PT, petista que se recusou a vender a consciência aos ditames do poder. O perfil da senadora é, por si só, uma receita de sucesso.

A questão que se impõe, entretanto, é: será esse sucesso fortuito, duradouro, auto-sustentável ou biodegradável?

Uma resposta precisa com margem estreita de erro é impossível de ser dada neste momento em que a senadora estréia sua previsível entrada no jogo da sucessão.

Heloísa Helena ficou meses a fio abaixo da linha dos 5% das intenções de voto e, com duas semanas do início das campanha oficial, dobrou seus índices e atingiu o ambicionado patamar dos dois dígitos.

Nessa progressão, chega ao horário eleitoral, em 15 de agosto, competitiva ou ao menos candidata a ser levada em conta. Quando nada por assumir o lugar de Anthony Garotinho na condição de terceiro lugar garantidor da realização do segundo turno.

Mas, será Heloísa Helena só isso ou poderá ela repetir trajetórias fulminantes hoje citadas como exceções que confirmariam uma hipotética regra a respeito dos fenômenos eleitorais ocorridos de quando em vez?

Vai se saber mais adiante quando, por exemplo, os 49% que, segundo a pesquisa Datafolha, hoje votam na senadora mas admitem mudar a escolha, tomarem suas decisões finais.

Heloísa Helena é dona do eleitorado mais volátil e seu discurso radicalizado não ajuda exatamente a "fidelizar" o eleitor. Antes, pode contribuir para assustá-lo.

Se ela aceitasse fazer concessões para amenizar o tom ou assumir o figurino de coqueluche da estação adaptando seu jeito mais ao gosto do freguês, seria hoje forte candidata a fenômeno dada a insatisfação das pessoas com o presidente no cargo e a falta de entusiasmo com seu principal oponente.

Mas, nesse terreno das concessões e cessões ao papel de musa da eleição, melhor nem fazer a proposta à senadora. Não que o proponente vá ser posto para correr com um quente e dois fervendo, mas arrisca-se a quase isso.

A senadora comemora a pesquisa com recato, pois tem consciência da fragilidade de sua situação ainda indefinida entre a fluidez de um fogo de palha e a obstinação do chamado "fogo de morro acima" que, diz o popular, ninguém segura.

Hoje ela se beneficia do mesmo fator que outrora foi uma vantagem para Luiz Inácio da Silva: o anseio por um pacto com a esperança ainda que na forma de utopia.

Esse eleitorado ficou órfão depois da opção preferencial do PT pelo pragmatismo - para dizer de forma amena - e por isso mesmo não fica à vontade para votar num candidato do PSDB, ainda mais se o perfil é conservador como o de Geraldo Alckmin.

Bem, esses fatores, que desfavorecem cada um a seu modo a Lula e Alckmin, levam votos - muitos, no caso das capitais e entre o eleitor mais bem informado - até Heloísa Helena mas sozinhos são, ainda, insuficientes para mantê-los com ela até o fim.

HERANÇA

A pesquisa Datafolha responde de alguma forma à indagação sobre o destino dos eleitores de Heloísa Helena no segundo turno, caso a etapa final seja mesmo entre Lula e Alckmin.

Dos 49% de eleitores da senadora que admitem até outubro a hipótese de mudar o voto, 39% declaram preferência pelo tucano e 21% ficam com o presidente.

Donde se infere que a proporção obedeça ao mesmo padrão em, cada vez mais, provável segundo turno.

SÓCIO-FUNDADOR

Entre os fatores que fizeram prosperar o trabalho da CPI dos Sanguessugas, integrantes da comissão relacionam a sorte, a competência do Ministério Público de Mato Grosso, a firmeza do juiz Jeferson Schneider da Justiça Federal no Estado e vários outros.

Mas não deixam de reconhecer a ajuda dada por Bruno Maranhão de sua tropa de ocupação das dependências da Câmara dos Deputados.

A CPI obteve as assinaturas necessárias à sua instalação exatamente no dia seguinte à invasão do Parlamento pelo MLST.

Naquele dia, acossados pelo desrespeito e afronta, vários parlamentares concluíram que, se recusassem a investigação, ficariam ainda mais desmoralizados.