Título: 'Se não for Israel, quem fará frente ao Hezbollah?'
Autor: Ahmad Khalidi
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2006, Internacional, p. A16

Shimon Peres é o vice-primeiro-ministro de Israel e um dos ganhadores do Nobel da Paz de 1994. Ele conversou terça-feira com Global Viewpoint.

O ataque de Israel ao Líbano foi considerado desproporcional. Qual é a sua resposta?

A acusação de que a reação de Israel é desproporcional é um comentário amargo. Disparar 1.500 foguetes sobre as casas e as vidas dos israelenses - os foguetes não escolhem onde cair - é proporcional? Temos uma situação em que existem quatro organizações imunes a qualquer consideração diplomática ou política: Irã, Síria, Hamas e Hezbollah - dois países e duas organizações terroristas. Ninguém consegue influenciá-los. Eles não ouvem ninguém, nem a ONU, nem os EUA, nem a União Européia, nem a Rússia - nem mesmo os Estados árabes ou o líder do governo libanês. Esta é a primeira vez que podemos ver o mundo paralisado diante de Irã e Síria, que tentam debochar da comunidade internacional, enviando armas e dinheiro ao Hamas e ao Hezbollah para instigar uma guerra. Israel está realmente sozinho. Ninguém consegue detê-los. E ninguém pode nos defender. É por isso que temos agido no Líbano. E talvez possamos dar um pouco de esperança ao povo libanês porque até agora o Exército libanês - formado por 70 mil homens - não pode agir com o Hezbollah no caminho. E talvez possamos devolver alguma influência à comunidade internacional. Não queremos nada do Líbano e nem eles querem nada de nós. Só queremos ver o Líbano unido, próspero e livre do corpo estranho no seu próprio território, o Hezbollah, que está pondo em perigo o destino e a vida dos libaneses. Fomos atacados sem motivo. Nós nos retiramos do Líbano e devolvemos toda a terra e toda a água em obediência às resoluções da ONU. Devolvemos toda a Faixa de Gaza aos palestinos. Agora, eles querem a troca de prisioneiros. Antes do seqüestro dos soldados israelenses, o primeiro-ministro deixou claro que estava disposto a discutir isso. Ninguém deve imaginar o contrário. Estamos unidos como nunca e passando por uma experiência dolorosa e não temos a menor intenção de nos submeter ou nos desculpar.

O que está por trás do seqüestro dos soldados pelo Hezbollah, que sabia que provocaria Israel?

O Irã e a Síria viram uma oportunidade de ouro por causa da paralisia internacional. Sentiram que poderiam conseguir o que querem para aumentar sua influência criando tumulto e ninguém consegue fazê-los parar. Isso aconteceu ao mesmo tempo em que o Irã se recusou a chegar a um acordo com EUA, Europa, China e Rússia sobre seu programa nuclear.

Israel almeja agora destruir o Hezbollah militarmente?

Nosso objetivo é deter os ataques de foguetes do Hezbollah, possibilitar que os militares libaneses assumam o controle e impeçam o grupo para sempre de voltar à fronteira de Israel - como estipula uma resolução da ONU -, e libertar nossos soldados.

Quando Israel parará?

Quando os ataques pararem, Israel parará.

Israel pretende promover uma invasão terrestre do Líbano?

O problema não está em terra, está no ar. Se criarmos uma zona-tampão, será que eles vão conseguir mísseis de alcance maior para disparar de uma distância maior? O que então impedirá o Hezbollah de obter mísseis de alcance mais longo do Irã ou da Síria?

Kofi Annan e Tony Blair sugeriram enviar uma "força de estabilização" da ONU para a fronteira do Líbano com Israel. O que o sr. pensa disso?

Eles estão enganados. O confronto não é em terra. É no ar. Se essas forças da ONU conseguirem impedir que o Hezbollah dispare mísseis e foguetes, é uma coisa. Se elas forem combater o Hezbollah, ótimo. Mas não faz sentido posicionar pessoas em terra para observar os mísseis voando sobre suas cabeças. Isso é inútil.

Então o sr. prefere a solução proposta pelo presidente Bush, que disse a Blair que Annan deve chamar o presidente da Síria, Bashar Assad, e dizer-lhe para obrigar o Hezbollah a "parar com essa merda"?

Certamente. Em vez de enviar observadores, é melhor ir e dizer a Assad para parar com isso. Tudo está nas mãos de Hezbollah, Síria e Irã. O Líbano não conseguirá impedir isso.

O G-8 pediu a Israel que libertasse o ministro palestino capturado na Faixa de Gaza para ajudar a deter a crise. Israel fará isso?

Eles fizeram uma lista de uma série de coisas. Primeiro o Hezbollah tem de parar com os foguetes, depois soltar nossos soldados e depois devemos libertar o ministro deles. Não faremos de outra forma.