Título: São Paulo diz adeus a Raul Cortez
Autor: Livia Deodato
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2006, Vida&, p. A19

Cerca de 120 mil pessoas estiveram ontem no velório do ator Raul Cortez no Teatro Municipal, entre 6h30 e 16h40. O caixão ficou lacrado a pedido do próprio ator, frustrando as expectativas de grande parte do público. Sobre o caixão foi colocada uma bandeira do Estado de São Paulo. Cortez morreu na terça, aos 74 anos, no Hospital Sírio-Libanês, vítima de complicações relacionadas a um câncer abdominal.

O secretário de Estado da Cultura, João Batista de Andrade, colocou à disposição um carro do Corpo de Bombeiros para levar o corpo do ator, às 17 horas, para o Crematório da Vila Alpina, zona leste da Capital. Cerca de 8 mil pessoas, que aguardavam a saída do caixão, aplaudiram e gritaram em coro o nome do ator. Suas cinzas devem ser lançadas no sítio da família, na cidade de Porto Feliz.

Várias personalidades do universo teatral e político compareceram ao velório e foram recepcionadas pelas filhas Lígia (que teve com Célia Helena) e Maria (com Tânia Caldas). Os diretores teatrais Antunes Filho e Antônio Araújo, as atrizes Irene Ravache, Maria Fernanda Cândido e Betty Faria e os atores John Herbert, Paulo César Pereio e Sérgio Mamberti foram alguns dos presentes no Municipal, espaço oferecido pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PFL). "Minha presença aqui é o reconhecimento dos paulistanos a este que tanto fez pela nossa cultura", disse ele.

Kassab acompanhou a cerimônia ao lado da família. Ao final da missa, ocorrida às 11h20 no saguão do Municipal, o prefeito disse que Cortez "deixa saudades pelo seu idealismo e sua inteligência". E falou sobre a relação do ator com a cidade onde nasceu. "Ele tinha um amor muito grande por São Paulo, sempre participou da vida da cidade."

O cineasta José Mojica Marins também levou suas condolências à família. Ele contou que Cortez havia topado participar do filme que encerra a trilogia do Zé do Caixão, chamada A Encarnação do Demônio. "O Raul já tinha topado trabalhar comigo há mais de 20 anos, mas só consegui arrecadar verba agora para finalizar a trilogia onde o Zé do Caixão aparecerá pela última vez", contou. "O Raul é insubstituível. Agora irei chamar um personagem para fazer o mesmo papel, mas sem nenhum compromisso", lamentou.

Às 15h30, o ex-prefeito José Serra (PSDB) chegou ao Municipal recepcionado pelo público com um misto de vaias e aplausos. "Ele era um amigo e ator maravilhoso. A primeira vez que o vi foi na peça Pequenos Burgueses, em 1963, no Oficina." Raul Cortez apoiou publicamente, nas últimas eleições presidenciais, o então candidato do PSDB, José Serra, que fazia oposição a Lula (PT). "Esta será a minha primeira campanha majoritária sem o apoio do Raul."

Por volta das 16 horas, a família pediu licença à imprensa para ficar alguns minutos a sós. Pouco depois chegou o governador Claudio Lembo (PFL), também causando reações diversas. Lembo ficou apenas alguns minutos no saguão e quando saiu, pela lateral do teatro, foi chamado de corrupto por uma jovem de 20 anos, Flávia de Mello. Ao que ele respondeu que corrupta era ela. Lembo a empurrou e a confusão foi contida por seguranças do governador. "Eu sou corrupta? Estou desempregada, vim atrás de emprego", disse, mostrando o currículo numa pasta amarela. "A gente tem de lutar, não podemos mais deixar eles fazerem o que querem", completou, irritada.