Título: Mercado espera taxa Selic de 14% na virada do ano
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2006, Economia & Negócios, p. B3

Apesar de a Selic ter atingido o menor nível dos últimos 31 anos, os economistas do mercado financeiro entendem que ainda há espaço para novos cortes este ano. As dúvidas quanto à nova redução dos juros na reunião dos dias 29 e 30 de agosto, que no mês passado eram grandes, estão cada vez mais distantes.

No cenário traçado pelo banco espanhol Santander, o Comitê de Política Monetária (Copom) fará mais um corte de 0,50 ponto porcentual no mês que vem, levando a Selic para 14,25% ao ano. A instituição está otimista e projeta também mais dois cortes de 0,25 ponto nas reuniões de outubro e novembro. Com isso, o Brasil terminaria 2006 com uma taxa nominal de 13,75%, afirma o economista do Santander, Maurício Molan. Na avaliação dele, o quadro de inflação é bastante favorável, seja para 2006 e 2007, o que contribuiu para o ciclo de redução dos juros. "Por isso não vemos uma parada do Banco Central agora". Ele afirma que a queda no preço dos alimentos hoje pode ajudar a manter a inflação futura em baixa.

O economista, Marcelo Allain, professor de MBA da Fipe/USP, aposta numa Selic de 14,25% ao ano em dezembro. Na próxima reunião, ele espera que o Copom dê uma desacelerada na redução dos juros e corte 0,25 ponto porcentual. Segundo ele, os dirigentes do BC vão avaliar o efeito dos últimos cortes na economia, afinal esse novo patamar de Selic é uma novidade para a maioria.

Allain afirma que, do ponto de vista apenas de inflação, o BC tem muito espaço para reduzir os juros. Além disso, não há pressão de demanda, já que a capacidade de produção do País ainda é suficiente. "Junta-se a isso o dólar desvalorizado e o preço das commodities em baixa." O economista ressalta, porém, que o BC terá de ficar atento ao mercado internacional, que está no caminho contrário em relação à política monetária. No resto do mundo, o movimento é de aperto monetário, enquanto aqui é de queda nos juros. Quanto ao preço do petróleo, ele afirma que os analistas já estão considerando uma alta no preço dos combustíveis após as eleições.

Para a economista-chefe do BES Investimento, Sandra Utsumi, o conteúdo do comunicado que se seguiu à reunião do Copom merece destaque. A manutenção do texto, diz ela, mostra que o BC mantém a perspectiva de um novo corte de juros em agosto. "Resta-nos saber de quanto será a redução, se de 0,50 ou de 0,25 ponto porcentual, diz Sandra. A decisão de ontem, avalia ela, mostra que a autoridade monetária tem se sentido bastante confortável para tomar suas decisões, sem interferência. A previsão da instituição é de redução de 0,25 ponto em agosto. Mas tudo dependerá da Ata do Copom, que sai semana que vem.