Título: O comerciante que não paga nem cobra juros
Autor: Marcelo Rehder e Márcia de Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2006, Economia & Negócios, p. B4

Mesmo com o juro básico em queda desde setembro do ano passado, o consumidor considera as taxas atuais abusivas.

"Só compro à vista", afirmou o comerciante Evanir Salvador Nielsen, de 52 anos, que na tarde de ontem, com a mulher Marli Nielsen e a futura nora Ana Paula Santos, fazia compras numa loja do centro comercial da Lapa, em São Paulo.

Nielsen comprou um rack para TV, pagou à vista R$ 330 e pechinchou para conseguir um bom desconto. Ele conta que o preço pedido pelo produto era R$ 430. O desconto foi de 23%.

"Com essa taxa de juros de 4% ao mês não dá." Segundo o comerciante, a taxa razoável seria a que é paga pela poupança, de 0,5% ao mês.

Ele contou que até na sua loja, que revende confecção, ele optou por abolir os juros. O comerciante vende em até quatro vezes sem acréscimo e paga os fornecedores à vista. E disse que banca o crediário com recursos próprios.

Na prática, nada muda para o consumidor nos próximos dias com a redução da taxa básica de juros, a Selic, de 15,25% para 14,75% ao ano. "A queda é insignificante", afirmou Nielsen.

A auxiliar de enfermagem Dorotéia Marcia de Paula, de 54 anos, casada e mãe de três filhos, disse que os juros entre 6% e 7% ao mês cobrados pelas lojas e financeiras são um "absurdo".

Ela afirmou que só compra a prazo pois não tem condições de pagar à vista. "Os níveis atuais de taxas de juros são muito altos. E eu olho os juros na hora de comprar." Atualmente, Dorotéia está pagando a prazo a sua cozinha, R$ 161,85 por mês. "Já paguei 6 de 15 prestações."

Além dos juros das prestações, ela está indignada com os juros de mora cobrados pelo atraso no pagamento da prestação. Chegou a pagar R$ 7 por um dia de atraso.