Título: Uma cúpula de muitas queixas
Autor: Ariel Palacios e Marina Guimarães
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2006, Economia & Negócios, p. B9
Paraguai, Uruguai e Chile, como membro associado, chegam à Córdoba para a reunião do Mercosul com missões distintas. A comitiva paraguaia vai pedir ao Brasil e à Argentina o fim das assimetrias comerciais. "Ou existe a decisão de tomar ações concretas para eliminar as assimetrias ou teremos de chegar ao consenso de que o Mercosul é só uma zona de livre comércio e não um mercado comum", disparou ao Estado o vice-chanceler do Paraguai, Rubén Ramirez Lezcano. Ele afirmou que "pouco se avançou na agenda de aprofundamento" do bloco e criticou a atitude brasileira e argentina de terem negociado o Mecanismo de Adaptação Competitiva "sem consultar, nem incluir" o Paraguai. '
No entanto, a pesar das queixas em relação aos sócios "grandes", o vice-chanceler admitiu que seu governo está otimista sobre as iniciativas para melhorar a posição do Paraguai dentro do Mercosul e citou como exemplo, a proposta do Brasil, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social de financiar os investimentos brasileiros naquele país.
Lezcano afirmou que a proposta vai ajudar o Paraguai. Mas, deixou claro que não é suficiente para resolver o problema das assimetrias.
Por sua vez, o governo do presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, vai propor trégua à Argentina na "Guerra da Celulose", que confronta os dois países desde o ano passado e cujo pivô é a construção de duas megafábricas de celulose no município uruguaio de Fray Bentos, sobre o Rio Uruguai.
Os argentinos opõem-se às fábricas, afirmando que elas causarão um "apocalipse ambiental" com duros efeitos econômicos para a região. Os uruguaios as defendem, argumentando que as fábricas vão recuperar a estancada economia do Uruguai. O presidente argentino, Néstor Kirchner, desferiu dura campanha contra as fábricas, recorrendo à Corte Internacional de Haia. Ele perdeu há poucos dias a instância nessa corte, mas já deixou claro que não se resignará.
A presidente do Chile, Michelle Bachelet, levará até Kirchner, em Córdoba, seu protesto ao aumento do preço do gás que importa da Argentina. Ela também vai contestar a restrição que a Argetnina está aplicando à venda de gasolina para os motoristas com carros com placas estrangeiras (entre eles, os chilenos) que costumam abastecer nos postos do lado argentino, onde a gasolina é mais barata.
Pressionada pela oposicão, Bachelet ameaça suspender a licitação para a Ferrovia Transandina, que une os dois países atravessando a Cordilheira dos Andes. A obra é considerada crucial por Kirchner para facilitar o escoamento da produção argentina para o Pacífico. A medida desconcertou o governo argentino, não acostumado aos revides dos países vizinhos.