Título: Dívida alta explica falta de interesse
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2006, Economia & Negócios, p. B18

O presidente da companhia aérea OceanAir, Carlos Ebner, disse ontem em Brasília que os passivos trabalhistas e fiscais da Varig foram fundamentais na decisão da empresa de não participar do leilão. "Não vemos como blindar essa dívida."

O executivo criticou o processo de venda da Varig. "Algumas coisas nos parecem estranhas, como o fato de se estarem usando as mesmas regras do leilão antigo", disse. "Outra coisa (estranha) é que vai acontecer o leilão, mas não saiu o edital." Ebner esclareceu que não se referia ao anúncio oral, feito pela Justiça do Rio, mas à publicação oficial do edital do leilão.

Para Ebner, em caso de falência da Varig não haverá maiores problemas no mercado doméstico porque as empresas nacionais já estão se acomodando há algum tempo. "O mercado já veio assumindo de forma gradual, porque a crise da Varig não é de hoje", disse.

DUOPÓLIO Ebner aproveitou para criticar a resolução da Anac, publicada no início do mês, que estabeleceu um sistema de rodízio para distribuição dos novos slots. Para a OceanAir, o sistema beneficia apenas as grandes empresas, TAM e Gol, e favorece o duopólio. "Isso ocorre porque, como já somos uma empresa que opera, teremos que entrar no rodízio para escolha de novos slots, mas isso vai preservar o poderio de quem já tem muitos espaços", disse.

Em resposta, a Anac afirmou que o presidente da OceanAir "está mal informado, porque a agência reguladora tem apenas quatro meses de funcionamento e já está estabelecendo as diretrizes de uma política para o setor". Um exemplo, segundo a Anac, seria própria regra sobre a distribuição de slots, divulgada após consulta pública.

A TAM, por sua vez, disse que a discussão sobre duopólio no setor aéreo "é uma certa balela". O diretor de relações institucionais da empresa, Paulo Castello Branco, negou que isso traga efeito nocivo sobre o consumidor e pregou que a companhia cresceu "por competência" e sem fazer aquisições. Ele chegou a citar que o próprio grupo Synergy, dono da Ocean Air, é monopolista na Colômbia, onde opera com a empresa Avianca.

Ele lembrou que quando a TAM começou, havia mais empresas no setor. "Conquistamos mercado por competência nossa e por incompetência e fragilidade de outras empresas", disse.