Título: Para viajar para Europa, vale até pajelança
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

Se os passageiros da Varig com vôos cancelados tivessem conhecido o pajé Yanumo, da aldeia Mehinako, no Parque do Xingu, seus problemas estariam resolvidos. Ontem, ele, outros quatro índios, um músico inglês e a cantora e compositora Marlui Miranda estavam com tudo pronto para embarcar num avião da Varig para Londres, às 22h. Vão fazer uma turnê pela Europa.

No fim de semana, quando soube dos cancelamentos de vôos internacionais, o pajé, especialista em benzer contra dores, impôs as mãos sobre os bilhetes e rezou. No domingo, a Varig retomou as viagens para Londres, suspensas na sexta. "A reza dele é forte. Nada vai dar errado", disse Miranda.

Yanumo e os jovens indígenas saíram de Xingu, em Mato Grosso, há duas semanas. Viajaram dois dias de barco, de caminhão e de ônibus até chegar a São Paulo. Ontem, eles eram os únicos passageiros da Varig no Aeroporto de Guarulhos confiantes de que iriam voar.

A estudante Maria Miranda não teve a sorte de ter seus bilhetes benzidos pelo pajé. Está penando em aeroportos desde quinta-feira, quando deveria ter saído de Londres. Passou por Frankfurt e Madri. Depois de dormir uma noite no aeroporto, foi acolhida por uma brasileira que mora na Espanha. "Era uma desconhecida, mas como a Varig não me deu nada, aceitei." Maria pretende visitar a família em Brasília, mas até a tarde de ontem ainda aguardava ser premiada numa lista de espera.