Título: Juro é o mais baixo desde 1994
Autor: Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2006, Economia & Negócios, p. B6

O consumidor está pagando juros menores e tendo um prazo mais longo para quitar os empréstimos obtidos na rede bancária. Em maio, pelo quarto mês consecutivo, as taxas de juros caíram tanto para pessoas físicas quanto jurídicas. Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC), a taxa média para pessoas físicas estava em 56,1% ao ano, nível mais baixo da série estatística iniciada em julho de 1994. Em relação a abril, a queda foi de 1,7 ponto porcentual.

O BC detectou que nos primeiros 12 dias de junho houve pequena elevação nas taxas dos financiamentos para pessoas físicas. Mesmo assim, o chefe do Departamento Econômico (Depec) do BC, Altamir Lopes, avalia que a tendência é de baixa. "Os juros ainda têm espaço para cair." Segundo ele, "só agora a queda da taxa básica de juros, a Selic, que vem sendo promovida desde setembro passado pelo BC, começa a ter reflexos de forma mais acelerada na rede bancária". Por isso, Lopes diz estar convencido de que os consumidores serão beneficiados com taxas menores nos próximos meses.

Além do crédito mais barato, os clientes estão sendo beneficiados com mais dinheiro à disposição para financiamentos e maior prazo de pagamento. O saldo dos empréstimos do crédito livre (recursos que os bancos podem destinar para qualquer segmento) passou de R$ 431,16 bilhões em abril para R$ 443,95 bilhões em maio - aumento de 3%. Esse volume de crédito representou 22,1% do Produto Interno Bruto (PIB), o porcentual mais alto da série histórica do indicador, que começou em junho de 2000.

CARTÕES

A expansão do crédito foi significativa no cartão de crédito, cujo uso aumentou 15% devido ao Dia das Mães, e também no leasing , voltado basicamente para o financiamento de veículos. Em maio, segundo dados do BC, os consumidores também tiveram maior prazo para pagar suas compras. O prazo médio para o consumidor pessoa física quitar a dívida foi de 328 dias. É o prazo mais elevado desde julho de 2001.

Mas, segundo o BC, a inadimplência também cresceu entre abril e maio, atingindo o nível mais alto desde 2003, tanto para pessoas físicas quanto para jurídicas. Em maio, 2,4% do crédito concedido às pessoas jurídicas e 7,6 % dos financiamentos às pessoas físicas estavam em atraso por mais de 90 dias. Para Lopes, esses números devem ser analisados com cuidado, pois a inadimplência foi maior porque o volume de crédito à disposição dos clientes também foi maior.

A redução dos juros, no caso das pessoas jurídicas, foi de 0,9 ponto porcentual em maio, com uma taxa média de 29,7% ao ano. A queda dos juros foi acompanhada pela diminuição do spread bancário - é a diferença entre o que o banco paga para captar o dinheiro de um cliente e a taxa que ele cobra para emprestar para outro. O spread para a pessoa jurídica caiu de 15% em abril para 14% em maio, e para a pessoa física baixou de 43% para 41,1%.

No segmento das pessoas físicas, a queda dos juros foi liderada pelo crédito pessoal, cuja taxa média baixou de 65,3%, ao ano em abril, para 62,3% ao ano em maio, e pelo financiamento de veículos, que teve queda de 34,1% para 33,3% ao ano.

A taxa média cobrada no cheque especial permaneceu em 145,4% ao ano e o juro do empréstimo com desconto em folha subiu um pouco, de 36,2% em abril para 36,8% em maio. Para Lopes, essa pequena elevação pode significar apenas o aumento da participação, no mercado, de alguma instituição que cobra mais caro.