Título: Arcelor Mittal vai em busca da China
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2006, Economia & Negócios, p. B12

A Arcelor Mittal, gigante da siderurgia que será formado com a fusão dos grupos Arcelor e Mittal, já sabe para onde pretende se expandir. Ontem, durante entrevista para explicar detalhes da fusão, o presidente da Mittal, Lakshmi Mittal, disse que a nova companhia deve buscar aumentar sua presença na China, e não tem interesse em adquirir siderúrgicas no Japão. "Os dois grupos dividem a mesma opinião sobre o mercado chinês. De ambos os lados, temos experiência em trabalhar no país e isso deve ser discutido nas próximas semanas", disse o executivo.

A oferta de fusão feita pela Mittal Steel foi aceita no domingo pelo conselho de administração da Arcelor, após quase cinco meses de recusas veementes. A oferta, que envolve pagamento em dinheiro e ações, avalia a Arcelor como valendo cerca de 24,6 bilhões. Orgulhoso com sua vitória, Lakshmi Mittal disse que o grupo combinado não será apenas líder em aço, iniciando uma consolidação global no setor, mas também uma das maiores empresas do mundo - a 40ª colocada no ranking da revista Fortune.

O presidente do conselho de administração da Arcelor, Joseph Kinsch, estava menos empolgado, descrevendo o acordo como "um casamento de bom senso", apesar de esperar que o negócio se torne um "casamento de amor". "Nós tentávamos convencer a noiva pelos últimos cinco meses de que nós a amamos e que ela devia aceitar a nossa proposta de casamento", disse o bilionário indiano.

A fusão cria uma empresa com produção de aço superior a 110 milhões de toneladas por ano, mais que o triplo da agora segunda colocada, a Nippon Steel, que produziu 32 milhões de toneladas no ano passado. Entretanto, um pretendente pode atrapalhar o casamento. Pelo menos 50% dos acionistas da Arcelor devem primeiro votar na sexta-feira pela rejeição da fusão da companhia com a russa Severstal, controlada pelo magnata Alexei Mordashov.

A fusão da Arcelor com a Severstal foi anunciada em maio, como uma forma de barrar a oferta de compra hostil feita pela Mittal. Mas, por pressão dos próprios acionistas da Arcelor, a empresa teve de voltar atrás e começar a negociar com a Mittal.

Segundo as informações divulgadas pelas duas companhias, os acionistas do grupo Arcelor poderão escolher entre receber 40,40 em dinheiro por cada um de seus títulos, trocar onze ações da Mittal Steel por cada sete da Arcelor ou uma oferta mista de treze títulos da Mittal Steel e 150,60 em dinheiro por cada doze ações da Arcelor.

O vice-presidente financeiro da Mittal, Aditya Mittal, filho de Lakshmi, disse esperar que o acordo seja fechado até meados de julho. Ele afirmou que ficará na diretoria administrativa, mas não se tornará presidente-executivo. De qualquer forma, já está definido que o novo grupo Arcelor Mittal vai buscar um novo presidente para o lugar do atual chefe da Arcelor, Guy Dollé.

"Eu falei com Guy Dollé", disse Joseph Kinsch. "Ele acha que, para realizar a fusão da nova empresa, devemos agora escolher um novo presidente." Dollé, de 64 anos, foi o principal articulador da luta travada nos últimos cinco meses para barrar a oferta da Mittal.