Título: Alckmin acusa rival de cometer crime eleitoral
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2006, Nacional, p. A5
O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, acusou ontem seu principal adversário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de cometer crime eleitoral ao usar ato público para pedir votos. Ele se referiu à participação de Lula, na quarta-feira, em evento em Contagem (MG). "Houve crime eleitoral. Ele (Lula) pediu votos descaradamente. Falou literalmente que 'a história iria registrar, assegurar mais quatro anos para consolidar essa política (de programas sociais)'. O evento todo foi campanha, com direito a camiseta, faixa e claque."
Ele comentou a ida do presidente ao Palácio dos Bandeirantes ontem, observando que nos seis anos em que foi governador nunca recebeu uma visita sua. "Ir, não tem o menor problema. A gente faz política com civilidade. Mas fazer propaganda enganosa, não dá." Lula também confirmara presença na inauguração do Centro de Oncologia do Hospital das Clínicas, mas na última hora decidiu não ir. Segundo o tucano, que não sabia da desistência, a participação na inauguração serviria apenas para "colocar o nome na placa". E ressaltou: "Não tem um centavo do governo federal (na obra do HC). O que o Lula faz bem é inaugurar placa e pedra fundamental. Aí, é com ele mesmo."
O candidato do PSDB também lamentou a demissão de Roberto Rodrigues do Ministério da Agricultura, "um homem qualificado e preparado". Para ele, a saída de Rodrigues representa "o ápice" da crise que atinge o setor agrícola. Ele criticou os juros, o câmbio, a falta de investimento sanitário e em infra-estrutura e afirmou que Rodrigues fará falta ao governo.
Ao participar da convenção do PSDB em Boa Vista, que homologou a candidatura do governador Ottomar Pinto à reeleição, Alckmin também condenou as declarações de Lula em relação a possíveis mudanças na Lei de Responsabilidade Fiscal. "Antes de mudar a lei, é preciso aprender a respeitar as leis. Lula não as respeita e, agora, apenas arranja mais uma desculpa para não fazer o que prometeu. Muda as desculpas, mas não sua atitude, que deveria ser de mais trabalho."
PROPAGANDA O tucano também reclamou da publicidade do governo federal, anunciando investimentos em São Paulo, em obras como o metrô e o Rodoanel. "Para o Rodoanel, veio zero de dinheiro", assegurou. "É tudo propaganda enganosa." Ao falar de Contagem, comentou notícias sobre o crescimento acelerado do número de cadastrados no Bolsa-Família. "Não há problema em ampliar o Bolsa-Família", afirmou, repisando que ele nada mais é que a união de vários programas sociais criados pelo governo FHC. Mas Alckmin criticou a adoção desse tipo de medida às vésperas da eleição: "É uma visão atrasada."
Alckmin tem se mostrado um aluno aplicado. Entre São Paulo a Boa Vista, passou a maior parte do tempo estudando o Estado que visitaria pela primeira vez. Leu textos preparados por assessores, consultou mapas e até um atlas. "Não dá para perder tempo em viagens. Tem de aproveitar para ler."
Entre uma leitura e outra, um cochilo para recuperar as energias e o sono, que na noite passada fora prejudicado. "Não costumo ter problemas com insônia, mas esta noite, às 3 horas eu estava fazendo palavras cruzadas", contou à reportagem do Estado. Na rápida parada em Brasília, onde o jatinho usado pelo PSDB aterrissou para reabastecer, Alckmin e a comitiva aproveitaram para almoçar. Entre uma garfada e outra, ele não esqueceu da família. Telefonou para a filha mais velha, Sofia, desculpando-se por não tê-la incluído na comitiva. Dos três filhos - Sofia, Geraldo e Tomaz -, é a garota a mais interessada em política. "Querida, da próxima vez você vem com a gente", prometeu.
Bem-humorado, Alckmin brincou durante boa parte do vôo e contou piadas. Aos poucos, o candidato vai se mostrando mais solto.
A repórter viajou a convite da campanha de Alckmin