Título: Ex-assessores incriminam Palocci no inquérito do lixo
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2006, Nacional, p. A8

Dois ex-assessores do ex-ministro Antonio Palocci contradizem a versão dele sobre irregularidades na limpeza pública de Ribeirão Preto. O depoimento deles foi anexado ontem no inquérito que apura a suposta formação de quadrilha para fraudar e superfaturar o contrato de varrição e limpeza na cidade, para alimentar o caixa 2 do PT.

O delegado que investiga o caso, Benedito Antonio Valencise, considera que o documento mais importante é o interrogatório da ex-superintendente do Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (Daerp) Isabel Bordini. "No interrogatório, ela contraria o que foi dito por Palocci na sua defesa. Ele alegou que não tinha atuação direta nas contratações e decisões do Daerp. Mas, segundo ela, Palocci tinha conhecimento das decisões importantes tomadas em seu órgão, bem como participava de todas as reuniões em que eram tomadas as decisões centrais do contrato do lixo", afirmou o delegado. Ele recebeu o depoimento, produzido por carta precatória enviada a Brasília.

A polícia sustenta que na gestão do petista em Ribeirão dobraram os pagamentos relativos ao mesmo espaço de limpeza de ruas e parques. O serviço que teria sido superfaturado foi entregue pela prefeitura à empresa Leão Leão, maior doadora de campanha de Palocci na eleição de 2000. Cálculos feitos no inquérito apontam um rombo de quase R$ 50 milhões nos cofres da prefeitura de Ribeirão entre 2001 e 2004.

O Daerp era o órgão responsável pela contratação dos serviços de varrição e limpeza da cidade. Apesar de dizer que Palocci tinha conhecimento dos passos dados no órgão, Isabel negou no interrogatório qualquer esquema de superfaturamento. Ela diz que a varrição foi maior naquele período por causa de um surto de dengue.

O outro interrogatório que chegou ao delegado Valencise foi o do ex-secretário de Governo da gestão Palocci Donizete Rosa. Além de superior imediato de Isabel Bordini na prefeitura, ele é casado com ela. Atualmente, Donizete ocupa uma diretoria no Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), por indicação de Palocci.

Como Isabel, Donizete Rosa negou a existência de qualquer irregularidade, mas, segundo o delegado, também disse que Palocci tinha conhecimento de tudo que acontecia em seu governo. "Ele disse que quem mandava efetivamente na prefeitura era o prefeito e que toda decisão importante era tomada por ele", explicou Valencise.

EQUIVOCADA

O advogado de defesa de Palocci, José Roberto Batochio, afirmou que o delegado faz uma interpretação equivocada do que os ex-assessores de Palocci disseram à polícia. "O que eles disseram foi que o prefeito estava a par das políticas implantadas em seu governo, mas não que sabia dos contratos", disse. "Ele não tinha conhecimento dos detalhes dos contratos."

Palocci será enquadrado por peculato, quadrilha e falsidade ideológica, crimes que teria cometido, de acordo com a polícia, ao participar diretamente das fraudes, ordenando adulteração das planilhas de medição da coleta de lixo.

O inquérito, que já soma mais de 73 volumes de documentos, está prestes a ser entregue para a Justiça. Serão pelo menos sete indiciados. Três ainda aguardam decisão da Justiça, para saber se a polícia será impedida de indiciá-los.