Título: Valério se cala na PF e defesa critica procurador
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2006, Nacional, p. A8

O advogado Marcelo Leonardo, que representa o empresário Marcos Valério, acusado de operar o mensalão, disse ontem que o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, está numa "saia-justa" por ter deixado de fora da denúncia oferecida ao Supremo Tribunal Federal (STF) pessoas ligadas ao esquema.

De acordo com Leonardo, Antonio Fernando "confessou implicitamente" que foi precipitado quando observou que não tinha apresentado denúncia contra todos os citados no inquérito. "E por isso está agora em uma saia-justa, porque já propôs a ação penal e tem outras pessoas envolvidas nas quais a denúncia não foi oferecida", afirmou. Ao todo, o procurador-geral denunciou à Justiça 40 pessoas, incluindo 12 deputados e ex-deputados, além de ex-dirigentes do PT.

Valério, agora com novo visual - o cabelo crescido, em vez da cabeça raspada -, compareceu no final da manhã de ontem à Superintendência da Polícia Federal (PF) em Belo Horizonte. Segundo Leonardo, ele exerceu o "direito constitucional de ficar calado" e não respondeu a nenhuma das perguntas feitas pelo delegado Praxíteles Praxedes, da PF em Brasília.

O empresário mineiro permaneceu por apenas 10 minutos na sede da PF e saiu sem dar entrevistas. À tarde, segundo o advogado, ele voltou à superintendência, a pedido do delegado, para formalizar a conduta de não prestar informações.

No entendimento do criminalista, "não há sentido" em seu cliente prestar novos depoimentos à Polícia Federal, já que há um processo no Supremo. Ele disse que entrou anteontem com um agravo regimental contra a decisão do ministro do STF Carlos Ayres Britto, que indeferiu liminar no habeas corpus em que solicitava a suspensão dos depoimentos de Valério e de duas ex-funcionárias da SMPB Comunicação: Simone Vasconcelos e Geiza Dias Santos - que compareceram à PF à tarde e se reservaram o direito de permanecer em silêncio.

Para Leonardo, os novos interrogatórios constituem um "andamento paralelo do inquérito". Ele avisou que seus clientes só vão prestar novos depoimentos na Justiça, caso convocados. Lembrou, ainda, que já propôs ao procurador-geral que Valério obtivesse o benefício da delação premiada, mas que Antonio Fernando "não está interessado" em ajuda.

Conforme o advogado, o instrumento legal, que permite redução da pena em troca de colaboração, poderá ser examinado pelo STF. "Ele (Valério) deu inúmeras colaborações na investigação. Diversos dados e nomes foram mencionados por ele e só através dos dados, fatos, informações e nomes que as investigações avançaram", frisou.

De acordo com Leonardo, a expectativa era de que o empresário fosse notificado da denúncia entre ontem e hoje.