Título: Inflação deve puxar só mais uma alta
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2006, Economia & Negócios, p. B1
A elevação do juro básico americano para 5,25% ao ano, a taxa mais alta desde 2001, era aguardada pela ampla maioria dos analistas, embora alguns esperassem um aumento de 0,50 ponto porcentual, para conter o potencial inflacionário. Foi essa expectativa de uma elevação acentuada do juro que causou a forte turbulência nos mercados internacionais nas últimas três semanas.
Apesar da reação positiva dos mercados à decisão do Federal Reserve, há quem entenda que o Banco Central dos Estados Unidos deverá elevar o juro básico, mais uma vez em 0,25 ponto porcentual, na reunião de 9 de agosto. O comunicado diz que aparentemente, o crescimento econômico está recuando em relação ao forte ritmo do início de 2006, devido ao gradual desaquecimento do mercado imobiliário e ao efeito defasado dos aumentos dos juros e dos preços da energia. Isso, teoricamente, insinua que não será preciso continuar aumentando a taxa básica, pois a economia já opera num ritmo menos forte. Mas os que defendem a tese de que o juro subirá outra vez em agosto se apóiam no trecho que vem logo a seguir: ¿No entanto, o alto nível de utilização de recursos e os preços da energia e das commodities podem, potencialmente, manter as pressões inflacionárias¿.
Como o texto dá margem a variadas interpretações, os que entendem que o aperto monetário pode estar chegando ao fim se fundamentam no trecho do documento da reunião presidida por Ben Bernanke que diz: ¿Apesar da alta dos núcleos inflacionários, os ganhos de produtividade reduziram a elevação dos custos da mão-de-obra, e a expectativa inflacionária foi contida. Embora a moderação no crescimento da demanda agregada deva permitir limitar as pressões inflacionárias ao longo do tempo, o Fed entende que alguns riscos de inflação persistem. A extensão e o momento de qualquer aperto adicional que possa ser necessário para evitar tais riscos dependerão da evolução da perspectiva da inflação e do crescimento econômico, a partir de futuras informações¿. O documento diz ainda que a instituição agirá com rapidez, se as pressões inflacionárias ganharem força.
Analistas lembraram que desde que Bernanke tomou posse, em fevereiro, as atas do Fed que justificavam as elevações do juro só mencionavam a ameaça inflacionária, mas desta vez o crescimento econômico também foi citado. Em tese, isso indica que uma nova alta do juro básico não está garantida, e dependerá da reação da economia nas próximas semanas.
O fato é que no mercado de juros futuros de Chicago os contratos projetavam 81% de chance de uma nova alta da taxa em agosto, antes da reunião do Fed. Depois da reunião, a possibilidade caiu para 59%.