Título: Euforia nos mercados
Autor: Celso Ming
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2006, Economia & Negócios, p. B2

A manada adorou a música que ouviu ontem do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. E comemorou.

A reunião do Comitê de Política Monetária, o Fomc, tomou a decisão esperada e elevou em um quarto de ponto (0,25%) os juros básicos nos Estados Unidos, para 5,25% ao ano. Melhor que isso foi o conteúdo do comunicado divulgado logo a seguir.

Em síntese, lá ficou dito que a economia americana está em fase de desaquecimento, o que, em princípio, afasta o perigo de estouro da inflação; que um dos problemas da área financeira, a bolha imobiliária, está sendo equacionado; e que a política de juros vai dando conta da tarefa de conter a inflação.

Não faltou a advertência de praxe de que, apesar da melhora dos sinais, o Fed tratará de cortar as asas da inflação, se ela voltar a surpreender.

Pareceu claro o recado de que a política do Fed não vai se impressionar demais com as eventuais novas manifestações da inflação americana. Vai levar mais em conta o que está acontecendo na atividade econômica. Se o consumo vai sendo contido, será inevitável que, mais à frente, a inflação também cederá terreno e, nesse caso, que a política de juros seja afrouxada.

E assim ficou entendido. Os observadores concluíram que está próximo o fim do aperto monetário, ou seja, o fim do ciclo de alta dos juros internacionais, que começou em junho de 2004.

Os mercados, tão tensos nas três últimas semanas, se desarmaram. O dólar voltou a cair no câmbio internacional diante das outras moedas fortes: 0,76% diante do euro e 1,34% diante do iene japonês. O ouro saltou 1,36% e as bolsas festejaram.

O Índice Dow Jones, que mede a evolução das principais ações negociadas em Nova York, subiu quase 2,0% e voltou para o patamar dos 11.200 pontos. A Nasdaq avançou quase 3,0%. São números especialmente elevados para os padrões americanos.

O prêmio de risco que se paga para os títulos de dívida do Brasil caiu 14 pontos. Aqui, a reação foi equivalente. O dólar fechou em baixa de 2,12% e a Bolsa avançou 4,7%.

Isso talvez não seja suficiente para pôr um fim à corrida para a segurança e à aversão ao risco que começou na primeira semana de maio porque um fator subjetivo responsável pela turbulência ainda não foi eliminado.

Os mercados sentem saudades do presidente anterior do Fed, Alan Greenspan, e ainda não confiam inteiramente no taco do sucessor, o economista Ben Bernanke.

Isso significa que pode voltar aquela cisma de que, sob nova direção, o Fed ficou tolerante demais com a inflação. Ou, então, a de que a necessidade de mostrar serviço vai obrigar o Fed a apertar mais do que o necessário a política dos juros.

Este é o tipo de estado de espírito que favorece volatilidades de todos os tipos. De todo modo, em duas ou três semanas, será possível conferir até que ponto a temporada de medo foi afastada.

A melhora geral do ambiente externo se compõe com a mudança da percepção dos analistas internacionais sobre o comportamento da economia brasileira. Isso sugere que a temporada de dinheiro mais raro, que começou na primeira semana de maio, se reverteu e que os capitais deverão perder parte do medo de aplicar dinheiro em ações e títulos do Brasil.

Outro ponto a conferir.