Título: França critica Mandelson por sugerir mais abertura
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2006, Economia & Negócios, p. B6

A iniciativa do comissário de Comércio da União Européia, o britânico Peter Mandelson, de acenar com uma abertura maior do mercado agrícola do continente na Rodada Doha provocou imediata gritaria da França. Os ministros do Comércio Exterior, Christine Lagarde, e da Agricultura e Pesca, Dominique Bussereau, da Agricultura e Pesca, o desautorizaram. "Essa idéia simplesmente não está em jogo. Não tenho voz para falar pela UE, mas não vamos cair na proposta do G-20. Isso é inaceitável", disse Lagarde. "Não há nenhum mandato que permita a flexibilização da proposta agrícola em direção à posição do G-20", reiterou Bussereau.

O ministro da Agricultura argumentou que a França teria, como aliados dentro da UE, a maioria dos seus 25 membros. Citou Espanha, Itália, Alemanha, Portugal, Irlanda, Chipre e Malta.

Mas a Áustria, que preside a CE neste semestre, já havia respaldado Mandelson. Segundo afirmou o ministro austríaco de Comércio, Martin Barteinstein, o mandato concedido pelos países do bloco para a Comissão negociar a Rodada tem a flexibilidade necessária para que proposta de corte médio de 54%, sugerida por Mandelson, possa ser posta na mesa.

O lobby francês pela preservação da proteção ao setor agrícola é conhecido. Diplomatas brasileiros lembraram que não foi a primeira vez que a dupla Lagarde-Bussereau bateu de frente com Mandelson, o único responsável pelas negociações, como meio de atrapalhar a tomada de decisões.

Ontem, Lagarde voltou a espezinhar o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a quem atribuiu a "habilidade" de adotar uma estratégia para atrasar as negociações. "A França está preocupada porque a Rodada está bloqueada por um grupo de grandes exportadores agrícolas", disse."Perdeu-se o espírito de equipe nas negociações. Os Estados Unidos jogam no ataque, o Brasil joga na defensiva, e os europeus estão bem posicionados."

Aos jornalistas, Amorim declarou: "Respeito muito a França, mas só negocio com a União Européia."