Título: Para Argentina, aumento será de 56,2%
Autor: Agnaldo Brito e Marina Guimarães
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2006, Economia & Negócios, p. B8

Paparicado de forma explícita pelo presidente Néstor Kirchner, o presidente da Bolívia, Evo Morales, assinou ontem em Buenos Aires um acordo sobre o preço do gás boliviano que será exportado para a Argentina. Pelo acordo, o preço subirá 56,2%, de US$ 3,20 para US$ 5,00 o milhão do BTU (unidade britânica de temperatura, usada para medir o combustível).

Depois de semanas de duras negociações, Kirchner não conseguiu que o preço ficasse nos US$ 4,00 que os argentinos tentaram negociar como limite. No entanto, o valor também não foi aquele que o governo boliviano havia inicialmente desejado, entre US$ 5,50 e US$ 6,00.

O novo preço entrará em vigor a partir de 15 de julho, com prazo até 31 de dezembro. Por esse motivo, antes do fim do ano, os dois governos deverão voltar a negociar para discutir o valor do gás para 2007.

O acordo assinado ontem também determina que a Argentina passará a adquirir um volume maior de gás boliviano nos próximos anos, para atender a crescente demanda da expansão econômica interna. O plano é aumentar a importação dos atuais 7,7 milhões de metros cúbicos diários para 27 milhões. No entanto, o aumento das importações argentinas de gás boliviano dependerá da finalização das obras do Gasoduto do Noroeste Argentino (que terá financiamento do BNDES).

O acordo estipula que a Argentina não poderá repassar o gás importado da Bolívia para "terceiros países". Trata-se de referência implícita ao Chile, país com o qual a Bolívia possui um litígio territorial.

A Argentina foi a única abastecedora de gás para o mercado chileno durante anos. Mas, em 2004, a exaustão das reservas argentinas e a expansão econômica do país obrigaram Kirchner a reduzir as vendas de gás argentino ao Chile. Para poder cumprir os contratos com os chilenos, a saída foi comprar mais gás boliviano para equilibrar a balança entre o consumo interno e as obrigações dos contratos. O gás boliviano importado pela Argentina equivale a 5% do consumo interno.

PALANQUE Segundo os analistas, para Morales o fechamento do acordo com a Argentina é um trunfo político de efeitos não somente internacionais, mas também internos, já que o preço conseguido com Kirchner aumenta sua popularidade para as decisivas eleições da Assembléia Constituinte, que vão ser realizadas neste domingo na Bolívia.

Kirchner, que enviou um avião da frota presidencial para transportar Morales até Buenos Aires, recebeu o boliviano com toda pompa na Casa Rosada e o levou para discursar em um comício numa cidade da Grande Buenos Aires.