Título: Bolívia fala em dobrar preço do gás para o Brasil
Autor: Agnaldo Brito e Marina Guimarães
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2006, Economia & Negócios, p. B8

O ministro boliviano dos Hidrocarbonetos, Andrés Soliz Rada, afirmou ontem, em Buenos Aires, que o preço inicial do gás natural a partir do qual iniciará a negociação com o Brasil será de US$ 8 por milhão de BTU (unidade térmica britânica). O valor pago hoje pela Petrobrás na fronteira é de US$ 3,93 por milhão de BTU.

Rada justificou o valor dizendo que este seria o preço a partir do qual o gás natural se equipararia à cesta de óleos combustíveis. O preço do gás comprado pelo Brasil é corrigido a partir do valor de uma cesta de óleos combustíveis. A afirmação do ministro foi feita durante a assinatura do novo acordo de preço com a Argentina.

Com a conclusão das negociações com os argentinos, o governo boliviano deverá se voltar para o Brasil e iniciar forte pressão sobre a Petrobrás. "A previsão é que isso ocorra. A Bolívia virá para cima do Brasil. Deverá iniciar uma ofensiva de informação na qual dirá que a Argentina foi generosa e o Brasil reticente", afirma um funcionário do Itamaraty.

Ontem, a Agência Boliviana de Informações (ABI), órgão do governo de La Paz, repercutiu declaração de Rada em que afirma que recorrerá à arbitragem caso a resposta da estatal brasileira seja a de negar um novo acordo para o atual contrato. A Petrobrás aceitou negociar, mas deverá dizer não à proposta boliviana de aumento. Neste caso, não sobra outra alternativa à Bolívia senão recorrer à corte arbitral.

Segundo fonte do Itamaraty ouvida pelo Estado, a Petrobrás não tem como aceitar uma revisão do contrato que resulte em aumento de preços. Se isso ocorrer, a indústria das regiões Sudeste e Sul do País, hoje as maiores consumidores, simplesmente suspenderiam o consumo.

A Petrobrás já tirou o subsídio ao preço do gás no segundo semestre do ano passado e começou paulatinamente a fazer repasses de preço. O próximo reajuste, já anunciado, entra em vigor amanhã.

"Se a Petrobrás aceitasse um valor de US$ 8 por milhão de BTU, simplesmente São Paulo pararia de consumir esse combustível. É essa conta que os bolivianos não conseguem entender", disse a fonte diplomática. "A Petrobrás terá dificuldade para demonstrar isso à Bolívia", avalia. Segundo ele, o resultado da negociação com os argentinos vai estimulá-los a tentar fechar algum acordo com o Brasil.