Título: Ministro 'não vai sair atirando'
Autor: Vera Rosa e Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2006, Economia & Negócios, p. B9

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, "não vai sair do cargo atirando" e decidiu poupar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de qualquer exposição negativa sobre o relacionamento do governo com o agronegócio. Ao longo de três anos e meio de convivência, aprendeu a gostar de Lula, mas isso não justifica engajamento pessoal na campanha de reeleição.

Representante do setor produtivo, Rodrigues não votou no presidente e não se sente à vontade para participar do mutirão do governo para a reeleição de Lula, processo em que todos os ministros estarão envolvidos a partir da próxima semana. O ministro garante que não está deixando o governo por problemas políticos. Mas seu pedido de demissão na terça-feira está sendo justificado por uma série de fatores, entre eles o constrangimento político.

"Os motivos do afastamento do ministro estão retratados na imprensa de maneira geral", disse ontem um assessor, confirmando que um deles é a dificuldade de pedir aos agricultores que votem em Lula. "O setor não está tão satisfeito assim com o governo", confidencia um amigo. "Como é que ele (Rodrigues) poderia pedir votos para Lula?"

Ontem, o ministro recebeu cada um de seus secretários, visitou a Embrapa, fez videoconferência para mais de 10 mil funcionários do órgão e, à tarde, visitou a Conab para uma despedida pessoal dos funcionários. Todos estavam perplexos com a decisão de Rodrigues, apesar das muitas vezes em que ameaçou deixar o governo. A surpresa é ele ter pedido demissão logo depois de traçar, com Lula, planos e atividades a serem desenvolvidos até dezembro.

O ambiente de perplexidade foi confessado por uma das pessoas que se reuniu ontem com Rodrigues. Ela revelou que a todos o ministro repetiu como um mantra: o tempo e a história vão dizer a verdade. "Quando passar a crise, quando as nuvens se dispersarem... quem sabe ele conta", disse com ar de mistério uma pessoa próxima a Rodrigues. "O ministro estava sufocado", contou um assessor, referindo-se às pressões que sofria para ser mais contundente nas críticas ao governo.

Ontem, apesar da despedida, Rodrigues esbanjava tranqüilidade: "Gente, o que aconteceu é que eu quis ir embora. Chega". Não foi além em suas explicações e pediu dedicação e esforço de todos na continuidade dos trabalhos do ministério. Nos bastidores, apostava na indicação de seu secretário-executivo, Luís Carlos Guedes, para sucedê-lo. Alguns assessores mais impressionados com a crise diziam que Rodrigues "foi atropelado pelo Planalto". "O Palácio vazou a informação. Essa é mais uma incógnita do episódio da saída do ministro", comentou um assessor.