Título: Secretário é o mais cotado para lugar de Rodrigues
Autor: Vera Rosa e Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2006, Economia & Negócios, p. B9

O engenheiro agrônomo Luís Carlos Guedes Pinto deverá mesmo substituir Roberto Rodrigues no Ministério da Agricultura. Secretário-executivo do ministério, Guedes teve o nome citado ontem pela manhã, na reunião da coordenação política do governo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o substituto "natural" de Rodrigues.

Lula, porém, não fará nenhum anúncio oficial antes de ter um último tête-à-tête com o ministro demissionário, marcado para hoje. Às poucas pessoas com quem conversou, Rodrigues disse que saía porque estava muito "desgastado" no governo, recebendo pressões de todos os lados, da bancada ruralista à equipe econômica. "Foi um somatório de coisas", resumiu ele a amigos, negando-se a apontar a "gota d'água".

Antes de ir para o ministério, ontem, Rodrigues tomou café da manhã com Guedes, num elegante hotel de Brasília. Logo depois, já na recepção do hotel, mostrou bom humor com a demora de seu motorista. "Quando a gente pede demissão é assim mesmo: nem motorista chega na hora", brincou.

Na reunião de hoje com Lula, Rodrigues deve definir a data de seu desembarque formal do governo. Embora Guedes Pinto seja considerado certo como novo ocupante do cargo, o secretário de Política Agrícola, Ivan Wedekin, continuava a ser lembrado. Outra alternativa seria o deputado federal Silas Brasileiro (PMDB-MG), ligado aos cafeicultores, que comprovaria a hipótese de negociações com o PMDB.

Guedes Pinto é um técnico ligado ao PT que, na avaliação do Planalto, tem competência e não causa problemas. Além do próprio Roberto Rodrigues, Guedes Pinto tem como padrinho o ex-ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome José Graziano. Em 2003, o atual secretário-executivo da Agricultura ocupou a presidência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Defende a reforma agrária, mantém bom relacionamento com o Movimento dos Sem-Terra (MST) e com os ministros da área social, mas também tem ótimo trânsito com os titulares da equipe econômica.

Ontem, Rodrigues reuniu-se, separadamente, com vários assessores. Ele chegou ao ministério por volta das 7h e evitou justificar o pedido de demissão. "O que aconteceu é que eu quis ir embora. Chega", disse ele ao Estado. Ele insistiu que a decisão é pessoal, não tem conotação política e tampouco está ligada a problemas de saúde na sua família. "Eu resolvi ir embora, nada mais do que isso. Simplesmente vi que tinha acabado meu tempo e resolvi ir embora", declarou.

Às 11h, ele esteve na sede da Embrapa para a assinatura do acordo coletivo e do plano de carreira dos funcionários da estatal. À tarde, foi à sede da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A assessoria do ministério só divulgou a agenda do ministro no fim do dia.

"Plantem, sonhem e construam. Porém, a colheita mais importante é a do amor. Essa é a melhor receita para a felicidade", disse um emocionado ministro aos funcionários da Embrapa. "Duas coisas que ele (Rodrigues) sempre falou e que reforço aqui é sobre a precariedade da vida e a provisoriedade do poder", disse o presidente da Embrapa, Silvio Crestana, também cotado para o cargo.